Ué. Alexandre de Moraes não era o grande xerife da democracia? O cruzado do Estado Democrático de Direito? O protetor das instituições? O guerreiro contra as fake news e outras ameaças nascidas de seu intelecto brilhante e de sua aguçada visão jurídica? Não era ele quem estava disposto a tudo para proteger o país do fascismo, da extrema-direita e de outros espantalhos tão queridos do petismo?
Pois então. Curiosamente, na semana em que Lula disse que só sossegaria quando f&%$#*! o seu algoz, o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro, Alexandre de Moraes desapareceu do noticiário. Pior: na semana em que foi descoberto um plano para matar o mesmo senador, plano do qual o presidente da República zombou, Alexandre de Moraes fugiu dos holofotes e dos microfones como petista foge da verdade.
Não só ele. Luís Roberto Perdeu Mané Barroso e Carmen Cala Boca Já Morreu Lúcia, ministros dados a grandiosos clichês sentimentaloides que a imprensa militante repercute como se fossem aforismos dignos de antologia, também estão emudecidos. De bico fechado e incapazes de uma só palavra de reprimenda ao apedeuta-em-chefe também estão Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Edson Fachin e Rosa Weber. E Luís Fux? Por onde anda o ministro no qual os lavajatistas tanto confiavam e que não deu um pio em apoio ao senador Sergio Moro? Sem contar Gilmar Mendes, claro. Mas esse daí... De onde menos se espera é que não sai nada mesmo.
Há tempos não se ouve a voz do Trovão da Justiça. Que não ousa repreender Lula pelo palavrão e por aquilo que muita gente considerou uma ameaça velada a Sergio Moro. Que não se dignou nem mesmo a uma notinha de repúdio pelo plano de matar o senador. Aliás, Alexandre de Moraes tampouco se manifestou em relação à violência imposta por uma facção criminosa no Rio Grande do Norte - atos terroristas que, misteriosamente, não levaram ao afastamento da governadora petista.
Silêncio bem-vindo
E, no entanto, ouso dizer que o silêncio dos ministros do Supremo Tribunal Federal é institucionalmente bem-vindo. Porque é o certo. Digo, em outro momento, sob as bênçãos da democracia plena e cristalina, seria até de se louvar que os membros da altíssima cúpula do Poder Judiciário não se intrometessem em questões envolvendo outros poderes. Que se recolhessem a seus papéis constitucionais. Que se manifestassem apenas nos autos.
Mas até Alexandre de Moraes há de convir que, na atual circunstância, nessa democracia de fachada em que vivemos, e sobretudo depois do que se viu e ouviu nos últimos quatro anos, esse silêncio nada mais é do que uma expressão da mais suprema hipocrisia. É a mais perfeita tradução (“alguma coisa acontece no meu coração”) de um espírito jurídico contaminado por paixões partidárias e por uma visão de mundo que, num acesso de generosidade, chamarei aqui apenas de “estreita”.
Afinal, o que fizeram Alexandre de Moraes & Seus Togas Pretas nos últimos quatro anos além de perseguir primeiro os bolsonaristas mais ferrenhos (Eustáquio, Allan dos Santos, Daniel Silveira) e, depois, qualquer um que suas imaginações considerassem uma ameaça? Até humorista eles prenderam! Sem falar na intromissão incessante no Poder Executivo, que não podia nem dar um espirro sem ter de explicar, no prazo de 48 horas, o motivo do delicioso espasmo.
E falaram, hein? Ah, como falaram! Provocaram. Debocharam. Impuseram o medo. Teve até gesto de decapitação, lembra? Teve a decretação de um Estado de Exceção. Teve a volta da censura. O STF fez das tripas coração para deslegitimar, quando não criminalizar, os anseios de pelo menos metade dos brasileiros. A ponto de levar muitos deles a desacreditarem nas impolutas instituições. Se hoje muitos veem o STF como uma agremiação de militantes escolhidos por conveniência política e que agem contra a mesma sociedade que deveriam proteger da tirania do Estado, a culpa é das línguas (e canetas) soltas dos ministros.
Além de hipócrita, ou melhor, porque hipócrita, o silêncio de Alexandre de Moraes & Cia soa também como uma confissão de que temos no STF alguém (ou alguéns) que, na “melhor” das hipóteses, é apenas mais um antibolsonarista inveterado. Alguém que, veja só!, não hesitou em pôr em dúvida a legitimidade de todo o sistema eleitoral brasileiro, das urnas à atuação do TSE, só para tirar do poder um presidente que ele e os seus consideravam estética e ideologicamente repugnante.
[R.: Alexandre de Moraes está no canto inferior direito da imagem].
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