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Se gostei da vitória de Javier Milei na Argentina? Claro! Se esperava por ela? Os leitores assíduos deste espaço sabem que não. No último mês, em duas ocasiões perdi a chance de ficar calado e cravei a derrota de Milei por motivos que me parecem óbvios, mas talvez não sejam: a onda vermelha de que falava Bolsonaro já no começo de 2022 e a crença patológica do sul-americano em geral no poder interventor do Estado. O que não significa que tenha torcido pela derrota de Milei só para ter razão. Né?
Claro que não. E sejamos sinceros: foi uma vitória surpreendente. Positivamente surpreendente. Agradavelmente surpreendente. Esperançosamente surpreendente. Tão surpreendente, aliás, quanto a reação dos leitores ao que não era nem nunca foi uma previsão, mas que uma audiência menos qualificada interpretaria como uma previsão equivocada desta Mãe Dinazoff aqui. Só posso agradecer as muitas manifestações de generosidade e, por que não?, amizade. Obrigado.
Estética excêntrica
Por falar em sentimentos bons, admirando – é, essa é a palavra: admirando – a festa nas ruas de Buenos Aires, bem como a repercussão da vitória de Milei aqui no Brasil, me lembrei de uma conversa recente que tive com um amigo. Falávamos sobre Lava Jato, corrupção, a queda de Bolsonaro e a volta de Lula, quando o amigo lamentou: “O duro é isso. Nos deram a esperança e nos tiraram a esperança. Aí dói mais, né?”.
Dói. Mas é justamente esse roubo (!) recente da esperança nacional o que explica a felicidade que tomou conta do brasileiro com a eleição de Milei. Às favas as teorias econômicas e a estética excêntrica do homem! Porque no fundo a política contemporânea é isso: uma disputa de esperanças. Incluindo aí a esperança (ou falta dela) na própria política. E o brasileiro, na noite de domingo (19), resolveu aproveitar as isenções alfandegárias do Mercosul para importar da Argentina toneladas da esperança que anda escassa por aqui.
Tão escassa que eu dessa esperança na política confesso ter apenas umas poucas migalhas. Uns farelos que diminuem a cada sentença do STF ou a cada vez que o Lula abre a boca ou ainda a cada votação no Congresso – principalmente quando a matéria é prejudicial ao país. Daí porque não acreditava numa vitória de Javier Milei e mesmo agora tenho sérias dúvidas quanto à possibilidade de ele ser esse Presidente dos Sonhos que todo mundo enxerga.
Esperança da esperança
Mas, calma! Pode ficar tranquilo que não serei eu a jogar um balde de água fria na fervorosa esperança alheia. Na deles, na sua e no que resta da minha. Até porque no momento também me embriago nesse sonho de futuro. Nessa esperança melíflua de um Brasil, ou melhor, de um continente sul-americano livre do Foro de São Paulo e onde nomes como Lula e Kirchner sejam apenas lembranças distantes de uma ressaca socialista.
Então vamos combinar assim: celebremos enquanto é possível celebrar. Enquanto a realidade não se impuser. Enquanto as forças sinistras que dominam a política não tentam tirar de nós, mais uma vez, essa esperança frágil que regamos todos os dias com nossa fé imperfeita naqueles que nos cercam. E não hão de nos tirar. Você vai ver. Não desta vez. Essa é a esperança... da esperança.