Os alquimistas buscavam transformar qualquer ferro-velho em ouro. Versão contemporânea desses “sábios” que se acreditavam deuses, os conspiracionistas buscam hoje transformar qualquer evento (melhor ainda se for trágico) numa grande tramoia de uns poucos “que controlam o mundo”. Para o conspiracionista, somos peões num jogo que só ele, com sua inteligência incalculável, enxerga.
Meu primeiro contato com os conspiracionistas foi em 2006. Era o quinto ano do atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, e lá estava eu para ver o que aconteceria. O que aconteceu foi que um grupo de conspiracionistas, desrespeitando a dor das famílias das vítimas reunidas na cratera onde antes ficavam o World Trade Center, resolveram fazer um piquete a fim de mostrar ao mundo ignaro A Verdade. Isto é, os ataques tinham sido um trabalho do próprio governo norte-americano.
“Só não vê quem não quer!”, gritavam os manifestantes. E é interessante notar que, seja qual for o assunto, só o conspiracionista, com sua capacidade extraordinária de compreender a realidade, percebe os detalhes, as pistas deixadas para trás por esses supervilões que planejam o assassinato de Kennedy, fingem ter ido à Lua e implodem dois arranha-céus em Nova York só para... Para que mesmo?
No fundo, os conspiracionistas são mesmo uns otimistas. Afinal, eles acreditam no incrível talento de uns poucos para elaborarem estratégias complexíssimas, conseguirem financiamentos praticamente ilimitados e ainda coagirem milhares de colaboradores, em todas as esferas da hierarquia conspiracionista, a ficarem em silêncio. Ou melhor, semissilêncio, uma vez que toda conspiração que se preze deixa para trás um rastro para atrair João e Maria para a casa da Bruxa da Paranoia.
No que reside, porém, o poder de sedução de uma conspiração? No triunfo da vontade. Ou, traduzindo para uma linguagem que todo mundo já ouviu da mãe, na possibilidade de, uma vez comprovada a teoria, poder esfregar na cara do outro a Verdade que só o conspiracionista (“todo mundo dizia que eu era maluco”) foi capaz de enxergar. O pior é que isso às vezes acontece mesmo, como no caso do Foro de São Paulo, a conspiração-que-não-era-conspiração.
Claro que existe sempre a possibilidade de eu estar escrevendo essas coisas apenas porque tive um chip implantado em cérebro quando tomei as duas doses da vacina contra a Covid-19. Também existe a possibilidade, um pouquinho menos provável, de eu estar falando de conspiracionistas porque George Soros acabou de depositar, deixa eu ver aqui, meu Deus, nunca vi um 1 seguido de tantos zeros na minha vida! Menos ainda, mas não desprezível, é a possibilidade de eu ser o próprio Soros escrevendo enquanto uso uma daquelas máscaras de silicone para me fingir de cronistinha curitibano.
Porque é assim que raciocina o conspiracionista: no pressuposto de que o outro já passou por uma lavagem cerebral (e nem percebe), de que está sendo financiado por um conspirador malvadão que o obriga a se calar ou de que vive uma vida de mentira.
Não à toa, lá no primeiro parágrafo eu e meus neurônios, num conluio macabro desses que só você que usa chapéu de metal percebeu, usamos a palavra “deuses”. O conspiracionismo se baseia na ideia niilista de que Deus está ausente (ou no exílio, como querem os gnósticos; ou ainda morto), e Seu poder foi usurpado por homens que se reúnem em torno de uma mesa e determinam: agora faremos isso e aquilo a fim de exterminarmos a população. Só por diversão. Ou por uns bilhõezinhos a mais. E soltam aquela gargalhada!
(Atenção! Este texto vai se autodestruir em três, dois, um).
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