Para uma parcela da população, uma parcela relevante numérica e politicamente, ao se opor a Israel o ex-condenado e aspirante a faraó Lula comprou briga com Deus. Quem me chamou a atenção para este fato foi, acreditem!, a ex-deputada Janaína Paschoal, num daqueles seus tuítes tradicionalmente ensaboados. Esse de que falo, por exemplo, começa com “Se Bolsonaro tivesse bons conselheiros por perto, Lula não teria voltado”. Ahã.
Queria saber em que se baseia toda essa certeza. Mas deixa para lá. O que importa aqui é quando Paschoal, ao analisar a crise diplomática causada por Lula e que pôs o Brasil em franca oposição a Israel, escreve que “está internalizado na alma de grande parte do povo brasileiro que defender Israel traz bênçãos. O Presidente representa o Brasil, se ele amaldiçoa Israel, nosso País poderá ser impactado. Entendem?”.
Ao ler isso, levei até um susto. Afinal, as redes sociais formam um mundo dividido entre a obviedade e o delírio, entre as platitudes (inclusive as indignadas) e as mirabolantes e raramente criativas teorias da conspiração. Aí, de repente, e de onde menos eu esperava, me aparece essa análise apressada aí e que mistura antropologia e teologia para explicar que o “sionismo à brasileira” não tem nada a ver com “ódio ao Brasil e amor a Israel”, como disse alguém desses grupos nacionalistas que estão na moda. O sionismo à brasileira, bem como a revolta com a fala de Lula, tem a ver com temor a Deus.
Fui pesquisar e, a tempo de escrever este texto, descobri algumas coisas interessantes sobre essa ligação espiritual entre um país de maioria cristã, o Brasil, e Israel. Uma ligação e, agora, uma solidariedade que se sobrepõem às divergências ideológicas. O brasileiro não está nem aí para o progressismo de Israel e se mostra disposto a dar de ombros para o wokismo daquela região do mundo por um só motivo: Israel é a terra Dele.
O brasileiro não está nem aí para o progressismo de Israel e se mostra disposto a dar de ombros para o wokismo daquela região do mundo por um só motivo: Israel é a terra Dele.
Não por acaso, um documentário intitulado His Land (a terra Dele), produzido nos anos 1970 pelo evangelista Billy Graham, é considerado um marco nas relações entre cristãos protestantes (por aqui conhecidos como evangélicos) e judeus. No documentário, Israel aparece não apenas como a terra prometida dos judeus, e sim como um lugar que deve ser amado e protegido também pelos cristãos. Porque é a Terra de Deus – mesmo que os habitantes de lá não acreditem na divindade de Jesus.
Como afirmou recentemente meu amigo e colega da Gazeta do Povo Guilherme Carvalho, para os evangélicos “o Estado moderno de Israel é uma reencarnação histórica das lutas do povo judeu”. Além disso, segundo o Guilherme, “existe toda uma discussão teológica sobre o papel da nação judaica ‘nos planos divinos’”. E é aí que as afirmações dele em entrevista para a BBC dão as mãos para o tuíte de Janaína Paschoal a fim de explicar a ojeriza que a fala de Lula despertou no homem comum e simples e geralmente alheio às questões geopolíticas, com suas teorias tão intrincadas quanto inúteis.
Para o brasileiro (não necessariamente só os evangélicos), Israel não é apenas um país, na definição contemporânea do termo, seja ela qual for. Israel é uma Nação que está nos planos divinos. Incluindo aí planos de justiça e redenção. Ao tratarem os ataques terroristas do Hamas e a reação de Israel como meros eventos históricos causado por questões econômicas, Lula e seu séquito de ateus materialistas ignoraram o caráter espiritual da peleja. E assumiram uma postura de hostilidade em relação a Israel, com base na velha luta de classes dos manuais marxistas. Uma hostilidade que é quase como chamar Deus para a briga.
Deu no que deu. Agora eles terão de aguentar as consequências. Deste e do outro mundo – para quem acredita.
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