A dieta comunista funciona assim: você só come quando tem comida. E, no restante do tempo, obedece. Simples, né?| Foto: Bigstock
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Amiga leitora, eu também já sofri com os muitos quilinhos a mais e com as consequências de uma obesidade que, se não era mórbida, tinha dias em que alterava as marés. Não estou falando apenas das gordurinhas localizadas ou de uma ou outra celulite. Me refiro à diabetes, à pressão alta, à gota, à insuficiência renal. E principalmente à rejeição que eu, mesmo sendo uma gorda de rosto bonito, sempre tive de enfrentar numa sociedade magricelocêntrica.

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Ao longo desses anos todos convivendo com centenas de potes de sorvete na geladeira e interagindo romanticamente apenas com os entregadores de pizza, muitas foram as pessoas do movimento antigordofobia que tentaram me convencer a aderir à causa. Elas me diziam que eu deveria comer o quanto quisesse, que não havia nada de mau nisso, toma aqui mais uma coxa de frango, e que os exames clínicos estavam errados e eram manipulados por nossos maiores inimigos, os fascistas do IMC.

E assim eu vivia, triste, acabrunhada e, digamos, cheinha. Até eu conhecer, na sala de bate-papo “20 Tons. de Cinza”, o Ascânio. Conversa vai, sanduíche vem, o flerte virtual evoluiu para uma amizade – e só não virou nada mais sério porque o Ascânio está pensando em virar Odete e eu ainda não sei lidar direito com isso. Em nossas conversas, Ascânio teve a felicidade de compartilhar comigo uma ideia que eu até então desconhecia, o comunismo.

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O comunismo abriu a minha mente para uma série de coisas. Graças aos ensinamentos comunistas compartilhados por Ascânio/Odete, aprendi, por exemplo, que minha vida seria muito melhor se um líder, iluminado pela sabedoria de Carlos Marx e Frederico Engels e forjado na siderúrgica do saber que é a universidade, tomasse decisões por mim. E, melhor do que isso, aprendi que, ao longo de toda a história, o comunismo teve um papel decisivo no combate à obesidade.

O que me fez lembrar daqueles amigos do movimento antigordofobia, afastados de mim desde que me submeti à mais moderna das dietas comunistas: a Dieta Cubana. Muitos desses amigos (a Li, a Pri, a Si, a Di e o Fá) se diziam comunistas, mas não eram. A verdade é que no comunismo real (que nunca foi implementado totalmente em lugar nenhum do mundo!) não existe gordofobia porque não existem gordos. Uma questão de lógica.

Preocupação comunista com a obesidade

Desde a gloriosa Revolução de 1917, o comunismo sempre se esforçou para combater a obesidade. Infelizmente, esses esforços hoje em dia são considerados “tragédias humanitárias” pelos capitalistas, que disseminaram no Ocidente a mentira de que uma estadia forçada num spa da Sibéria era prejudicial à saúde das pessoas. Vê se pode uma coisa dessas!

Na China dos anos 1960, por exemplo, o camarada Mao, ele próprio sofrendo com a Síndrome da Adiposidade Indesejada, criou um programa que socializou a magreza entre os chineses. Alguns emagreceram tanto que desapareceram – mas é claro que eu não vou chegar a esse ponto. Eu tenho controle. Tenho personalidade. Não sou como os chineses daquele tempo, que não passavam de umas marias-vão-com-as-outras.

O que os livros de história não dizem é que quem sobreviveu à Dieta Chinesa, também conhecida como Dieta de Mao ou simplesmente como Revolução Cultural, hoje vive feliz no país mais próspero do mundo, onde mais de 90% da população aprova o governo (e os 10% restantes, depois de devidamente identificados e de passarem por um campo de reeducação, aprovarão também).

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Uma dieta revolucionária

Por causa do criminoso embargo estadunidense, eu nem saberia da existência de uma ilhota caribenha comunista chamada Cuba, não fossem as sábias palavras do douto Ascânio/Odete. Naquela ilha, desde 1959, todos os habitantes são obrigados a se submeter e manter uma dieta baseada na revolucionária ideia do jejum permanente e, nas raras situações de abundância, quando aquela fominha bate mesmo, em porções cientificamente reduzidas e deficientes em proteína, carboidratos, gorduras e sais minerais.

Pelo que Ascânio/Odete me contou, funciona assim: você só come quando tem comida; e, no restante do tempo, obedece. Simples, né? E, menina, vou te dizer uma coisa: funciona que é uma beleza. Até a imprensa conservadora reconheceu isso. Nesta semana em que os cubanos saíram às ruas em passeata contra o embargo estadunidense à ilha, vale reforçar que, por causa dessa dieta especial, os cubanos sofrem menos do coração do que nós, que temos a infelicidade de vivermos na abundância e liberdade do mundo capitalista.

Comecei a praticar a Dieta Cubana há duas semanas e já perdi 15 dias. Mas a maior mudança mesmo está na minha autoestima. Me olho no espelho e me vejo diferente – se bem que o cabelo azul ajuda. Meus amigos dizem que estou até mais inteligente e elegante com esse broche de foice e martelo. Se tudo der certo, espero conseguir tocar minhas costelas daqui a alguns anos.

Experimente você também, cara amiga leitora, a Dieta Cubana. Ou tente a versão oriental, a Dieta Norte-coreana. Ouvi dizer que é ótima também. A Dieta Venezuelana é meio picante demais para o meu gosto, mas o Ascânio/Odete me manda recomendar e eu recomendo. E, em 2022, não se esqueça de ir às urnas votar para que, de uma vez por todas, tenhamos neste Brasil supernutrido uma dieta verdadeiramente tupiniquim.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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