Bolsonaro (com Tarcísio Freitas ao fundo): hoje não vou fazer legenda engraçadinha para poupar o leitor furioso. Mas amanhã volto ao normal.| Foto: EFE/Sebastião Moreira
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As reações negativas ao texto em que chamo na xinxa Jair Bolsonaro, cobrando do ex-presidente (mas não só) algum tipo de postura heroica na defesa de pessoas que foram presas por causa dele, foram bastante... esclarecedoras. Digo aqui, sem nem um pingo de ironia, que essa lealdade inflexível a Bolsonaro me fascina. Me assusta um pouco também, confesso, por causa dos xingamentos e do onipresente pressuposto de que sou mal-intencionado. Mas me fascina.

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De todo modo, convém repetir algo que já disse em algum dos meus muitos textos: este é um espaço de conversa. A mim, como anfitrião, cabe pôr a mesa, oferecendo o melhor cardápio de que sou capaz. Não estou aqui para criar antagonismos de quaisquer tipos. Quero o bem dos meus hóspedes, mesmo daqueles que não me querem bem.

Por falar nisso, o prato do dia é mais uma reflexão dura. Mais uma encarada no espelho. Mais hipóteses para a relutância, inclusive a minha, em encontrarmos uma alternativa a Bolsonaro. Não porque ele seja o monstro que a esquerda pinta, e sim porque ele está inelegível. E, mesmo que consiga reverter essa situação e se eleger em 2026, duvido que Bolsonaro seja capaz de se articular para fazer as reformas profundíssimas necessárias à correção do tal “Sistema”.

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Você discorda? Tudo bem. Não precisa xingar, cara. Calma. Senta aí. Não vai embora, não, pô. Ô, garçom, traz uma cerveja aqui para o leitor que está revoltadinho. Ou melhor, traz a especialidade da casa: aquela cachacinha com mel, camomila, passiflora, lavanda, valeriana, hortelã e erva-cidreira. Isso. Obrigado. Agora, antes de voltarmos a falar mais ou menos sério, façamos um brinde à discussão sadia e à amizade. Saúde!

Fênix: um mito

Em vez de procurar e fomentar um nome que represente uma alternativa real a Bolsonaro, que está inelegível, observo que muita gente prefere apostar na reversão mágica, quase milagrosa, dessa inelegibilidade. Há quem reforce essa esperança por uma resposta dos céus acreditando que Trump vencerá as eleições norte-americanas e fará pressão sobre Lula e o STF/TSE. E tudo se resolverá!

Pode acontecer, claro, simplesmente porque tudo pode acontecer. Mas é improvável e, já que estamos no terreno das probabilidades, vale dizer que já surgiram alguns nomes para encabeçar uma chapa de direita (o que quer que isso signifique) em 2026. Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Tarcísio Freitas e até Ratinho Jr., todos governadores, são alguns dos nomes que, em teoria, poderiam preencher o vácuo (!) criado por Bolsonaro. Mas.

Mas há sempre um mas. Caiado foi picado pela mosquinha do autoritarismo sanitário quando da pandemia de Covid-19. Zema é “liberal demais”. Tarcísio tem dificuldades com questões de comportamento caras à direita. E Ratinho Jr. é isentão demais para o gosto dos bolsonaristas. E tudo bem, são discordâncias absolutamente normais. Mas (de novo?), diante da impossibilidade de se ter no páreo um direitista “puro sangue” (se é que isso existe), o que fazer?

Essa relutância, esse desinteresse, essa insistência em negar uma realidade só porque ela contraria o nosso ideal, explica um pouco por que temos hoje uma direita perseguida e impedida de expressar suas ideias, com direito a presos políticos, cassação de mandados, inelegibilidade e censura. Afinal, e por mais que Alexandre de Moraes insista em agir como Maduro, em nossa consciência somos e seremos sempre livres. Livres inclusive para nos apegarmos às paixões políticas e para teimosamente nos recusarmos a procurar uma alternativa concreta e viável a Bolsonaro. Isto é, uma alternativa que não se baseie numa fênix. Num mito.

Mas aí tem que arcar com as consequências.

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