A linha dura e ridícula do PT (digo, mais ridícula) lançou uma campanha igualmente ridícula pela queda dos juros no Brasil. Como você já deve ter visto por aí e por aqui, Lula e o PT travam hoje uma guerra com o Banco Central, presidido pelo neoliberal (oh, heresia!) Roberto Campos Neto. Os terraplanistas econômicos querem porque querem taxas de juros menores. Bem pequenininhas mesmo. Talvez até nulas ou negativas. E eu surpreendente e ironicamente concordo.
Concordo depois de conversar com um economista que, entre risadas e raquetadas de squash, defendia a educação pela pedra. Ou, no caso do PT, a educação pela foice e martelo. Dizia o amigo e freguês nas quadras que o melhor que poderia acontecer ao Brasil neste momento era o PT (leia-se: Lula) impor uma agenda econômica radical, destruindo a economia e levando milhões à miséria e à fome. Quanto pior, melhor.
Sim, meu amigo economista é um ser humano deplorável, como você pode perceber por essas palavras ásperas. Deve ser porque ele está acostumado a contemplar o mundo por meio de um terminal Bloomberg. Mas você só diz isso porque não o conhece bem e o está levando a sério demais. Como todo economista inteligente, meu amigo fala na teoria algo que ele sabe que já foi tentado na prática. Com consequências desastrosas. No mais, apesar de ser tecnocrata ele gosta de fazer cócegas na imaginação. Então vamos lá.
Se o Brasil baixasse a taxa de juros atual, de 13,75%, para, digamos, 2%, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Guilherme Boulos celebrariam – e só isso já seria causa de preocupação no restante da sociedade. No dia seguinte, antes mesmo de o mercado tirar as remelas dos olhos, o efeito seria o de um tsunami, bomba nuclear, terremoto, erupção vulcânica e ditadura do proletariado, tudo junto e ao mesmo tempo. Quem tem algum dinheiro investido, por exemplo, seria obrigado a gastá-lo o mais rápido possível. Parece bom, né? Talvez até divertido, diria alguém já tirando o cartão de crédito do bolso.
Mas não. Porque o consumo exagerado, sem o devido aumento na capacidade de produção, faria com que a inflação explodisse em pouquíssimo tempo. Tudo ficaria absurdamente mais caro. De uma hora para a outra. Mas aqui a gente já começa a perceber o valor educativo de um choque como esse. Porque também de uma hora para outra as pessoas perceberiam que a felicidade consumista prometida pela turma do #JurosBaixosJá é efêmera.
Com os investidores tirando o dinheiro do Brasil em busca de juros altos lá afora (talvez na caloteira Argentina, onde os juros chegam a 75% ao ano), não haveria dinheiro para se aumentar a capacidade de produção – o que, aliás, em alguns setores é um processo demorado. Aí seria só quebradeira, desemprego, fome, miséria. O combo venezuelano todo. Ah, já falei do dólar? Pois ele também iria pras cucuias (“para as cucuias” fica estranho), prejudicando importações essenciais e praticamente inviabilizando aquele passeio anual para comprar a muamba-nossa-de-cada-dia em Miami ou Ciudad del Este.
Meu amigo economista também falou que a rolagem da dívida interna ficaria mais difícil por causa de uma operação do Banco Central chamada “compromissada”. Mas não entendi. Esse negócio de rolagem da dívida interna é esotérico demais para mim. No mais, a crônica está terminando e, já que mencionei a ideia de “educação pela pedra”, não posso deixar passar a oportunidade de mencionar que se trata do título de um livro (e um poema) de João Cabral de Melo Neto.
Os versos finais do poema falam do “Sertão”, mas bem podem ser lidos como se falassem do Brasil e do brasileiro atuais, sobretudo dos farialimers e dos que trocaram a dignidade pela promessa de mais picanha. Daqueles que fizeram o "L" acreditando que um notório malandro seria humilde o bastante para, a essa altura da vida e da história, agir como o “otário” que faz o certo e aguenta as consequências. Ei-los: “lá não se aprende a pedra: lá a pedra,/ uma pedra de nascença, entranha a alma”.
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