Ouça este conteúdo
Eu sei. O caso das joias sauditas é ridículo e tal. A perseguição é evidente. São dois pesos e duas medidas. Hipocrisia. Coisa de Estado policial e totalitário. Sem falar nessa obsessão em transformar o ex-presidente Jair Bolsonaro num corrupto igual ou pior do que Lula. Sei de tudo isso e concordo com o que já disseram e explicaram bem meus colegas Deltan Dallagnol e Alexandre Garcia. Porém, ah!, porém.
Porém há alguns aspectos nesse caso que merecem um olhar mais detido. A começar pela perversão do rito diplomático da troca de presentes. Um gesto admirável e corriqueiro que Lula, ao deixar o cargo levando consigo 11 contêineres de presentes, associou para sempre à corrupção e à ideia de que, ao longo do seu mandato, o Presidente personifica o Estado. Não fosse isso, os petistas que hoje tratam Bolsonaro como um atrapalhado ladrão de joias nem se dariam ao trabalho.
Não fossem a ambição e a vaidade de Lula, escancaradas e traduzidas em valores pela Operação Lava Jato, ninguém estaria nem cogitando a possibilidade de um ex-presidente se apropriar, ah, falemos o português correto, roubar presentes diplomáticos, por mais valiosos que sejam. Tanto é assim que ninguém nunca pressupôs má-fé nos presentes recebidos por FHC, Itamar, Collor, Sarney...
Por falar nisso, será que as autoridades estão de olho nos presentes que Lula provavelmente está recebendo em suas muitas, muitas, muitas viagens internacionais? Estão sendo todos devidamente catalogados e incorporados ao patrimônio da União? Desculpe pela desconfiança. É que o atual presidente é a cara do Lula do Petrolão e do Mensalão. Cuspida e escarrada.
Eita, Bolsonaro!
Agora é aquele momento de você me desmascarar. De você mostrar que é mais esperto do que todo mundo e me acusar de ser um comunista infiltrado. Porque vou balançar a cabeça, fazer tsc!, tsc!, tsc!, tsc!, tsc!, abrir os braços com as mãos espalmadas e dizer: “Eita, Bolsonaro!”. Afinal, o caso das joias sauditas, embora em vários níveis ridículo, revela o tremendo despreparo do ex-presidente para lidar com uma opinião pública que sempre lhe foi hostil.
Em tempo: por “opinião pública” não me refiro à opinião do povo, e sim aos formadores de opinião, os loucos de megafone que insistem em tratar Bolsonaro como o vilão que, perdão pela ousadia, ele nem tem competência para ser. Prova disso é terem vasculhado a conduta do homem para encontrar apenas e tão-somente essa acusação frágil das joias sauditas.
Mas encontraram e é aí que está: Bolsonaro, sabendo que todos os seus passos estavam sendo observados com a lupa do pressuposto da maldade, não poderia nem cogitar o tal do caráter “personalíssimo” dos presentes recebidos. Tinha que ter doado para a União ou construído um museu. Qualquer coisa, menos levar para casa. Quanto mais vender e desvender!
O que me traz a um outro aspecto do caso das joias que está sendo convenientemente ignorado por quem se dispõe a defender o ex-presidente disso que, repito, é uma perseguição ridícula. Me refiro ao talento de Bolsonaro para se cercar por bajuladores, picaretas & oportunistas de todos os tipos. Por uma gentinha que pensa pequeno, minúsculo. Que só pensa em si e na manutenção de seus luxozinhos e privilegiozinhos. Por mais que tenha a cara-de-pau de subir num palco, bater no peito e se dizer “defensor das causas conservadoras”.