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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

E vamos botar água no feijão!

Qualquer um manda no país dos desmandos. Menos o presidente

Por mais que detenha o "poder da caneta", qual o poder real do presidente sobre nossas vidas? (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer à multidão que, semana passada, aceitou meu convite para um café/cerveja/uísque e uma boa conversa no texto “Se 65 milhões de brasileiros cogitam mesmo votar em Lula, onde foi que erramos?”. No meio de tanta gente boa e bonita havia um ou outro malcriado e feio, mas não tem importância. Para eles deixei a vassoura estratégica e supersticiosamente atrás da porta.

Dentre os comentários, me chamou a atenção um que falava sobre “a difícil tarefa de escolher quem vai dirigir nossas vidas”. Uau. Agradeço imensamente ao autor ou autora (não me lembro e estou citando de cabeça) porque essa frase ficou ricocheteando na minha cachola por muito tempo. Ela expressa uma dúvida antiga sobre o poder real do presidente do Brasil.

Filosófica e espiritualmente, por assim dizer, abordo essa questão amparado nas palavras de Jordan Peterson: nós é que damos poder aos outros, sobretudo aos nossos adversários político-ideológicos. E justamente porque os imaginamos muito mais poderosos do que são. Nós os imaginamos, veja só!, capazes de “dirigir nossas vidas”. Lembrando sempre que tem cerveja na geladeira e salaminho na mesa (sim, pode abrir o pote de rollmops), proponho ao leitor a pergunta: que poder real o presidente exerce em sua vida?

Imagino que as respostas variem de acordo com o grau de dependência da pessoa em relação ao Estado. Um funcionário público e um pobre que recebe Bolsa Família tendem a atribuir um poder direto maior ao presidente. Já um jornalista privilegiado como eu tende a atribuir pouco ou nenhum poder direto ao presidente. Estou aqui procurando em todas as gavetas da memória e não sou capaz de encontrar um único momento em que tomei uma decisão pessoal sob influência ou coação de Jair Bolsonaro.

Ah, sim. As decisões da equipe econômica afetam investimentos. As palavras muitas vezes abruptas do presidente influenciam o dólar, que por sua vez influencia a inflação que me obriga a trocar a Perrier pela San Pelegrino. Fora isso, sou livre como sempre fui para tomar minhas decisões, umas certas e a maioria errada. O que me leva a (ô, Jones, pega mais um ponto de interrogação pra mim ali na última gaveta, por favor) perguntar: será que não tem gente usando as discordâncias ideológicas com o presidente para justificar decisões pessoais equivocadas??????? (Não precisava de tantos, Jones. Um só bastava. Agora vai assim mesmo).

Lepra

Recentemente, o presidente da República, supostamente “o homem mais poderoso do Brasil”, foi proibido de mencionar a palavra “lepra”. A ação contra o já combalido léxico presidencial foi movida por uma associação de portadores de hanseníase que, ao que tudo indica, pretende eliminar a palavra por considerá-la discriminatória e ofensiva. O que, para mim, só prova que a hanseníase tem cura, mas a lepra do vitimismo não.

Se um juiz qualquer pode proibir um presidente de usar uma palavra perfeitamente normal e que consta inclusive nos Evangelhos (aliás, o presidente estava se referindo aos tempos bíblicos quando mencionou a palavra proibida), qual será a real dimensão desse poder presidencial? E mais: quem é que manda realmente neste país de tantos desmandos? (Os pontos de interrogação acabaram, mas já pedi mais. O motoboy deve estar chegando com eles).

Pense em todas as decisões do STF até aqui. Já impediram Bolsonaro de nomear o diretor da Polícia Federal de sua preferência – prerrogativa presidencial. Já o impediram de decidir qual seria a melhor forma de lidar com a pandemia. Já interferiram em vários ministérios e autarquias, usando como desculpa, por exemplo, o “desmonte das políticas culturais”. Ora, se um presidente (e seu governo) não pode desmontar algo que ele considera equivocadamente montado pelas administrações petistas, para que ele serve, então?

Por um lado, isso é bom. Em condições normais, isto é, se o Estado não estivesse tão aparelhado pela esquerda, essa limitação do poder presidencial deveria ser comemorada. Afinal, ninguém gostaria de viver num país onde os presidentes tivessem super poderes. Vai que o déspota acorda especialmente criativo e, sei lá, torna o pão com leite condensado obrigatório!

Mas acho que podemos concordar em duas coisas aqui. Primeiro que essa cervejinha está muito gelada mesmo! Estupidamente gelada, como se dizia no tempo em que os publicitários eram criativos. Em segundo lugar, podemos concordar que não vivemos em condições normais. Por um lado, o poder presidencial foi limitado e isso significa que não corremos o risco de termos de obedecer a qualquer sandice. Oba! Por outro lado, em países sem uma cultura democrática, como o Brasil, o poder despótico raramente fica sem dono.

Não à toa, nos últimos três anos, enquanto parte da elite intelectual e artística se escondia sob a cama, morrendo de medo de um fascismo imaginário, instituições (e suas correspondentes autoridades) como o STF tiveram seu poder aumentado – o que significa que estamos à mercê de caprichos ideológicos como o do juiz que proibiu o presidente de falar “lepra” e de sandices como a do juiz que sugeriu que pais que não vacinem seus filhos devem perder a guarda das crianças.

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