Joca, Lula com a gravata de cachorrinho e Janja com a camisa com estampa de carnificina.| Foto: Ricardo Stuckert e Redes Sociais
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Diante da queda na popularidade de Lula, a equipe de marqueteiros do PT se reuniu às pressas na casa de um famoso empreiteiro. Ali, ao redor de uma mesa farta de vícios, publicitários e políticos pensavam em estratégias para reverter estes fatos inegáveis e imaquiáveis (mesmo para um Márcio Pochmann da vida): a rejeição a Lula e a incompetência do governo dele. Todos estavam tensos. Menos Zé Dirceu. Que, alheio à conversarada, estava concentrado em ler a história do Joca em seu celular.

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“Alguém mais perspicaz pode até questionar a legitimidade do presida. Aí eu tô ferrado!”, disse uma importante autoridade calva da mais alta esfera do Judiciário, mas que preferiu o anonimato. O que ele estava fazendo ali naquela reunião entre publicitários e políticos que pretendiam salvar o governo do naufrágio eu não sei. É que não entendo nada dessa suruba entre os poderes da República.

De volta à reunião, eis que alguém, ah, quer saber?, eu vou dizer o nome de uma vez. Eis que Zé Dirceu teve uma ideia tirada de um de seus manuais gramscianos. “Já sei! O Joca!”, disse. Todos se viraram para o chefão com aquela cara de “que Joca?”. Mas em vez de responder algo como “aquele que gosta de ouvir fofoca, comendo pipoca com coca na padoca”, Zé Dirceu explicou que o Joca é, ou melhor, era (RIP) um cachorro que morreu tragicamente ao ser transportado num avião da Gol.

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“Captei a vossa mensagem, ó amado guru”, disse um publicitário à mesa. Ele tinha sotaque baiano e usava um disfarce à la Groucho Marx. Mas todo mundo sabia quem era. “O Joca tem todos os elementos de que precisamos neste momento. Ele vai ser a nossa Baleia”, disse, beeeeem devagar. Tão devagar que quase peguei no sono no meio da fala. Como ninguém entendesse a referência literária, porém, ele teve que explicar. “A Baleia. A cachorra de ‘Vidas Secas’”. Nada ainda. “Do Graciliano Ramos!”. Nada. O publicitário baiano desistiu. Da mesma forma que eu vou desistir se você não entender a referência ao publicitário baiano.

#JUSTICAPARAJOCA

Missão dada é missão cumprida. No dia seguinte, Janja recebeu a mensagem em termos bem menos literários ou sutis. “Joca é a nova [INAUDÍVEL]” – é que passou um trem bem na hora. Mas, pelo que entendi, a ideia era transformar Joca numa causa digna de monopolizar o debate nacional. Numa verdadeira tragédia política. Ou numa cortina de fumaça, como preferem os membros da seita dos Adoradores do Lugar-comum. Com alguma sorte, e a ajudinha dos porta-vozes espalhados pelas redações do país, o Joca ofuscaria a incompetência do governo e a tirania cada vez menos disfarçada do STF.

Naquela mesma manhã, Lula apareceu usando gravata de cachorrinho. Numa referência ao Joca, é claro! “Coloquei essa gravata em protesto ao que aconteceu com o cachorro”, disse Lula. Eu, inocente que sou, fiquei imaginando qual seria a estampa da gravata se ele resolvesse protestar contra a violência doméstica. Ou contra as mortes pela dengue. Ou contra a violência urbana causada pelas “saidinhas”. Enfim, você entendeu e a verdade é que esta é uma crônica de ficção, então minhas elucubrações não têm vez.

De volta à mistura entre realidade e fantasia, logo depois a primeira-tutora Janja apareceu usando uma camisa branca com dramáticas manchas de sangue (ah, não eram manchas de sangue?) para também prestar homenagem ao Joca. “Tenho apreço especial por seres que andam por aí na coleira”, disse ela e eu estou rindo ao escrever isso. Nas redes sociais, os petistas ouviram a flauta de Hamelin e subiram a hashtag #justicaparajoca. “Estamos há 3 dias sem saber quem mandou matar o Joca”, tuitaram em massa os influenciadores petistas. Na Câmara, se sucederam os discursos emocionados. No Senado, Randolfe Rodrigues pediu a Rodrigo Pacheco a abertura da CPMI do Joca, que já conta com duas assinaturas e algumas patinhas. Que fofo.

A direita não percebeu a armadilha e entrou na roda. “Se fosse um caramelo brasileiro o Lula não falaria nada”, declarou enfaticamente um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Acho que o Flávio. No STF, Barroso deu início a um esforço pela regulamentação do transporte aéreo de animais. “Por que os bolsonaristas não viajam no compartimento de carga?”, perguntou ele, rindo, e ninguém se escandalizou muito, não. “Au”, disse Rex, coordenador nacional do Movimento dos Vira-latas, em entrevista exclusiva para a LulaNews*.

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* Em tempo, o colunista já foi vítima de algo parecido e por isso (e também porque gosta de cachorros) se solidariza com o dono do Joca. O que não dá é transformar a, vá lá, tragédia em questão de Estado. Nem ver o caso sendo usado para se fazer proselitismo com base no sentimentalismo. E já que estou aqui vou aproveitar para reclamar de mim mesmo, porque não consegui fazer nenhuma referência ao clássico “A Dama e o Vagabundo”, da Disney. Droga!