Quinze de outubro de dois mil e vinte e três. Passa das quatro da tarde. Dia dos professores e de Santa Teresa d’Ávila. Dia em que registro nestas supostamente bem traçadas linhas que um chocolate, ou melhor, o biscoito wafer recheado e coberto com chocolate ao leite BIS virou símbolo da relação simbiótica e espúria entre o socialismo progressista e o capitalismo monopolista. Uma relação que, vale dizer desde já, o homem comum abomina mais do que o BIS Limão ou o BIS Laranja. Eca.
Tudo começou quando um menino trintão que fez fama e fortuna no YouTube decidiu se intrometer em conversa de adultos e falar de política e moral. Felipe Neto é o nome dele e se isso o fizer desistir do texto para ir comer um BIS, sinto muito. Pois o menino, na ambição de conquistar o mundo arqueando as sobrancelhas, nos últimos tempos andava todo tristonho porque teve que se deparar com as consequências de suas escolhas políticas. Porque vislumbrou o fracasso.
Eis que para salvar o mocinho socialista/progressista indefeso entrou em cena o capitalismo. Que parece herói, mas neste caso é vilão. Porque é um capitalismo também ele corrompido pelo desejo monopolista e pela amoralidade da busca desenfreada pelo lucro ilimitado. Estou falando do BIS. Aqueles retangulozinhos infelizmente deliciosos que nos acompanham desde a infância quando bate aquela fominha de um negocinho doce, sabe? Agora mesmo.
[ESCREVE COM A BOCA CHEIA] Pois o BIS, que pertence à multinacional Mondelez, ex-Lacta e ex-Kraft Foods, se compadeceu de Felipe Neto e resolveu contratá-lo para uma peça publicitária. A reação foi imediata e negativa, mas calma que piora. Porque Felipe Neto, o mesmo garoto-propaganda que até ontem estava apoiando aberrações como o Sleeping Giants, defendendo o estrangulamento financeiro de Olavo de Carvalho, celebrando demissão de jornalistas e gritando o slogan perverso “Sem Anistia!”, fez um vídeo no qual, além de arquear as sobrancelhas, ele pedia uma trégua.
Combinação indigesta
O cinismo e sobretudo a arrogância de um pedido de trégua em que não se ouve as palavras “perdão”, “desculpe” ou “errei” atraíram a fúria do público consumidor, que passou a boicotar ou pedir o boicote ao BIS. Que, pensando bem, nem é tão gostoso assim. Eu mesmo provavelmente só como BIS por causa das lombrigas. Mas isso não vem ao caso. O fato é que em pouco tempo as ações da Mondelez despencaram e o desastre de relações públicas se completou quando alguém descobriu que o CEO da empresa, Liel Miranda, faz parte do Conselho de Desenvolvimento Social Sustentável, o famoso Conselhão do Lula.
E quem mais faz parte do Conselhão? Você não vai acreditar se eu lhe disser que é o Felipe Neto, né? Mas é ele mesmo! Ele que xingava todo mundo e qualquer um, inclusive muitos consumidores de BIS, de fascista; que defende o aborto, liberalização das drogas e a “democracia militante” do STF – enfim, o cardápio progressista todo; ele que, ao lado do parça Luís Roberto Barroso, quer determinar o que pode ou não ser dito no Brasil; ele que é comunista-de-jatinho; ele que é o símbolo de uma geração que, para conquistar dinheiro e fama, não precisa produzir nada de útil para a sociedade. Ele mesmo.
Foi aí que o BIS deixou de entremear camadas de chocolate e wafer para se transformar numa combinação indigesta de capitalismo monopolista e socialismo progressista. De interesse de uma elite amoral e uma classe política corrupta. Uma mistura de Felipe Neto e Lula. Uma mistura de Felipe Neto e progressismo. Uma mistura de Felipe Neto e hipocrisia. Uma mistura de Felipe Neto e arrogância. Uma mistura de – ah, você entendeu.
A essa altura a situação do BIS já estava bem ruim. Mas piorou. Porque ao verem o moçoilo progressista e o capitalista e potencial doador de campanha em perigo, o vampiresco senador Humberto Costa e o açucarado senador Randolfe Rodrigues acharam que seria uma boa, uma ótima, uma excelente, não!, uma ideia genial gravarem um vídeo comendo BIS. Reforçando, assim, a associação entre o biscoito wafer (agora em embalagem comemorativa com 13 unidades) e a esquerda caricata, imoral e corrupta.
Resta saber como a gigante Mondelez reagirá a esse escândalo glutão. Será que, por convicção ideológica de sua equipe de publicidade ou por certeza contábil de que o boicote não é tudo isso, eles insistirão no erro? Ou será que, um tanto atrasados, aprenderão com o erro da cerveja Bud Light, que sofreu perdas enormes depois de ████████ █ █████████ ██ ██████ ? De qualquer forma, espero que resolvam isso logo. Porque não gosto de Felipe Neto, Lula, comunismo, progressismo ou corrupção, mas acabou o BIS e, sei lá, não quero ir ao supermercado e ser confundido com essa gente que ainda por cima apoia os terroristas do Hamas.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS