Fogo no parquinho: Madeleine Lacsko (foto) pegou uma caixinha de palitos de fósforo e se pôs a brincar perto de umas folhas secas e um tonel cheio de gasolina, mas não conseguiu destruir os brinquedos.| Foto: Reprodução/ Twitter
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Veio correndo ver se o parquinho estava pegando fogo, né? Desculpe decepcioná-lo, mas, apesar do título, não foi desta vez. Minha colega Madeleine Lacsko, alcunhada de "A Piromaníaca", realmente pegou uma caixinha de palitos de fósforo e se pôs a brincar perto de umas folhas secas e um tonel cheio de gasolina, mas não conseguiu destruir os brinquedos. Prova disso é que estou aqui, mais uma vez, pronto para descer pelo escorregador da liberdade e me espatifar lá embaixo.

CARREGANDO :)

Mas pode ficar tranquilo. Entre mim e Madá não há qualquer rusga nesse sentido. Nem em outro sentido. Não que eu saiba. Continuo sendo otimista porque foi assim que aprendi a sobreviver. E às vezes posso, sim, me tornar temporariamente escravo de uma frase.

Aliás, a Piromaníaca me confidenciou o incômodo que sente ao travar debates públicos com os colegas. Se bem que nossos textos, lidos um em seguida do outro, não configuram exatamente um debate. Se houve discordância ela se deu por erro meu. É que, embriagado de patéticas poetices polzonoffianas (com aliteração e tudo!), não consegui deixar clara a minha preocupação com dois nomes específicos envolvidos na campanha de cancelamento da semana passada - aquela que você provavelmente já esqueceu.

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Madá só me incomodou um pouquinho, quase nada, um tiquezinho no canto do olho, uma babinha escorrendo do canto da boca, coisa à toa mesmo, ao me acusar de escrever bem. Como se minha patética pretensão de permanência (outra aliteração!) fosse um crime. Bom, se for mesmo crime é bom já me apontar o caminho do cadafalso.

Inocentes soquinhos retóricos

Ainda sobre os debates públicos, não compartilho do mesmo incômodo que a minha colega. Muito pelo contrário. Se algo me incomoda é justamente a falta de mais debates públicos inteligentes e, com alguma sorte, esteticamente atraentes. Debates elegantes, sem apelidinhos para desumanizar nem golpes abaixo da cintura. Debates bem-humorados, daqueles que alternam risos, fatos, risos, citações, risos, risos, risos.

E olha que já tentei, mas não deu certo. Digo, já tentei procurar um adversário constante para trocar inocentes soquinhos retóricos, sem sucesso. Acometido pela solidão dialética, pensei até em convidar amigos para debates falsos, mas havia sempre algum empecilho. O principal deles, logicamente, é que uma troca de farpas entre amigos poderia soar como a falsidade que de fato é. E um debate falso, ainda que instrutivo e divertido, sempre será falso. Folgo em saber (!) que meus amigos e colegas não iriam querer se envolver nesse tipo de falcatrua intelectual. Ainda bem.

Restar-me ia (segunda mesóclise da semana. Está na hora de procurar um médico! O que é que está acontecendo comigo? Socorro!) a opção honesta do debate franco com adversários reais, pelos quais eu, de acordo com a cartilha, nutriria discordâncias evidentes, mas respeitosas. Desafetos intelectuais não me faltam, é verdade. Mas aí o problema é de outra ordem. Tenho a impressão de que, para muitos dos meus sparrings em potencial, é mais fácil e confortável ficar no seu quadradinho, conversando com a bolha, sem a importunação de uma querela que realmente faça pensar. Mas posso estar enganado. É raro, mas posso.

Além disso, pesa o fato de o Brasil não ter exatamente uma tradição em debates por escrito. Enquanto fui ali tomar um Toddynho, tentei me lembrar de algo assim e a única coisa que me veio à mente foi uma breve discussão entre Ferreira Gullar e os irmãos Campos. Mas quem é que se importa com política literária hoje em dia? De qualquer forma, a lembrança me deu uma ideia que, obviamente, não será levada adiante, mas que é gostosa de acalentar: debates metrificados. Duvido que a sua redondilha ganhe do meu alexandrino!

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Sinto falta de um adversário jornalístico-literário de verdade. Alguém que eu pudesse usar no nome de uma peça de teatro, plagiando Nelson Rodrigues. "Bonitinha, Mas Ordinária, ou: INSIRA SEU NOME AQUI". Ah, como seria bom abrir o jornal e levar um susto ao ler coisas como “Esse Paulo seria um Shakespeare se Shakespeare tivesse escorregado e batido violentamente a cabeça no chão aos 2 anos de idade, perdido parte do cérebro e o movimento das mãos". E saber que o insulto, por mais perverso que pareça, nada mais é do que o produto de uma mente criativa que discorda de você (no caso, de mim), mas, caramba, como escreve bem!

Ovo podre

Mas veja só como são as coisas. Abri o computador aqui para escrever este texto e, ainda no segundo parágrafo, minha intenção era falar da fofoquização do jornalismo. Afinal, as pessoas adoram saber quem foi contratado ou demitido e por quê. É como se o fato de a pessoa ter perdido o emprego por causa de uma ideia mal dita (mas não necessariamente maldita) provocasse assim uma onda de prazer em massa. As pessoas adoram um fogo no parquinho – e ainda mais se o parquinho ficar no meio de uma redação de jornal.

Leitor/espectador/ouvinte também gosta de saber claramente qual jornalista odeia qual jornalista, a fim de que possam escolher um lado. Você torce para o Guga E. C. ou para o C. R. Constantino? E, à medida que vou escrevendo essas coisas aqui, fico com a sensação de que estou descrevendo uma espécie de revista Contigo! da imprensa. Lembrando sempre que eu aumento, mas não invento.

Como ia dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo, minha intenção inicial era falar sobre a fofoquização do jornalismo, e não sobre o terreno quase estéril de um debate público que, irrigado pela ignorância, só dá mesmo é uns cactos daqueles bem feios, de espinhozão assim, ó. Mas agora o tempo, o espaço e a paciência acabaram e, no mais, vou aproveitar que a Madá não está por perto para ir ali no texto mais recente dela deixar um comentário com cheiro de ovo podre.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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