Quer prova maior do que a elite cultural brasileira está irremediavelmente corrompida? Que os artistas ignoram o público e se contentam com a aceitação do grupo? Que não almejam mais a glória? Pois aqui está, e de graça: a inexistência de uma versão de “Romeu e Julieta” com os Montéquios transformados em petistas e os Capuletos em bolsonaristas. Ou vice-versa.
Vice-versa, não! Lendo a fabulosa tradução de José Francisco Botelho da tragédia shakespeariana, por algum motivo associei a família de Romeu ao PT e a de Julieta a Bolsonaro. Mas é claro que vai ter especialista me contrariando. E tudo bem. Se ao menos uma pessoa se interessar em ler Shakespeare por causa destas parcas linhas já me dou por satisfeito.
Mas eu falava da elite cultural e caramba! Imagine um texto bom, realmente bom, talvez até levemente genial, explorando o sofrimento e a irracionalidade do amor e do ódio político que opõem as duas facções. No lugar de Verona, a tragédia poderia se desenrolar numa cidadezinha da Caatinga. Só para dar aquele toque ridículo de Brasil profundo à coisa toda.
“Ah, cego Amor que se acha cordial/ Mas na prática é um déspota brutal!”, gritaria Romeu numa passeata antibolsonarista, antes de se infiltrar numa motociata para ver Julieta, a quem ama escondido do Partido. E “o fim da dor presente” (Lula) que “está na dor futura” (2026) é aquele mesmo da versão original: o veneno (das fake news!), a adaga (do Adélio!) e as duas ideologias mortas. Para o desespero de quem só queria ser feliz.
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