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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Entre rãs e lambaris

Rússia x Ucrânia: como a paz mundial foi selada no Bar do Dante

Biden, Putin e Volodymyr Zelenskyy entram num bar. (Foto: Bigstock)

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Vladimir Putin, Joe Biden e Volodymyr Zelenskyy. Difícil dizer se algum deles é sensato. Difícil, portanto, saber de quem partiu a ideia. Para efeitos narrativos, e também porque aqui ao meu lado tenho um ex-agente da KGB com uma cápsula de polônio na mão, digamos que foi Putin quem convidou os outros líderes para uma cervejinha no Bar do Dante. “Vamos resolver essa confusão de uma vez”, disse, ou melhor, ordenou ele.

Biden, acostumado a obedecer ao que as enfermeiras mandam, foi o primeiro a aceitar o convite. Por um brevíssimo instante ele até se perguntou se o álcool interferiria nos remédios para a memória, mas logo se esqueceu. E tratou de mandar abastecer do Air Force One. Volodymyr Zelenskyy estava trocando memes no grupo de WhatsApp da OTAN quando recebeu o convite. Ele preferia que o encontro trilateral fosse no Barbaran. Mas, já irritado com a perda de Donetsk e Luhansk (sem falar na Criméia, aquela ingrata!) para o vizinho, achou melhor não tretar por um detalhe bobo desses.

O primeiro a chegar foi Biden, disfarçado de athleticano e vestindo uma velha camisa do Paulo Rink que conseguiu de última hora com o Serviço Secreto. Sentou-se naquela mesa lá do fundo, virou a cadeira para a porta, pediu uma Serramalte e ficou esperando. Antes que Biden se esquecesse de quem era, onde estava e por que, Putin e Zelenskyy chegaram juntos. Ao se reconhecerem, apertaram civilizadamente as mãos. Coube mais uma vez a Putin, disfarçado de coxa-branca e usando aquela estranha camisa alaranjada, quebrar o gelo. “Pô, Zelinha! Você veio mesmo! Que bom, cara! Me dá aqui um abraço!”, disse o líder russo, oferecendo-se para o amplexo de urso.

Zelenskyy se lembrou de Donetsk e da Criméia, aquela ingrata (ele não ia muito com a cara de Luhansk), pensou que seria difícil explicar isso lá em casa, mas, quer saber?, que se dane! Pela diplomacia vale tudo! E se deixou abraçar pelo inimigo. Ele usava uma camiseta do Paraná Clube, que chamava carinhosamente de paranito. Dos três, somente Zelenskyy não estava disfarçado. Ele realmente torce para o Paraná Clube, acredita?

Os dois se juntaram a Biden, que estudava cuidadosamente a garrafa de cerveja, tentando entender como aquilo funcionava. Putin pôs fim ao mistério, servindo os dois e pedindo uma porção de carne de jacaré. “A gente deveria ter chamado o Macron”, disse Zelenskyy, se sentindo inexplicavelmente culpado pela ausência do aliado français. “E aquela alemoa braba. Como é o nome dela mesmo? Mé? Mé? Merkel!”, disse um atrasado Biden. Putin e Zelenskyy caíram na risada, mas ele não entendeu a graça.

Chegou a comida. “Tem gosto de peixe, né?”, observou Zelenskyy. “Acho que é um pouco mais forte”, semidiscordou Putin. “O que é um peixe?”, perguntou Biden. Todos – até Biden – riram. E beberam e comeram e foram tratando de assuntos mais importantes, antes de falarem de invasão e até de ameaça nuclear. Empurraram o assunto com a barriga, se empanturrando de lambari e rã e carne de onça, até que não teve mais jeito.

Foi Biden quem finalmente apontou o elefante na sala. “Pessoal, o papo tá bom, mas acho que tá na hora da gente conversar sobre aquele negócio lá. Meu alvará vence daqui a pouco. A Kamala já mandou mensagem toda nervosinha aqui. E amanhã cedo eu trabalho...”, disse. Putin secou o copo, que pousou com um estrondo sobre a mesa. Zelenskyy levou um susto e Putin riu. “Quer saber? Quer saber?”, perguntou sem responder, a voz um tanto quanto pastosa e aqueles olhinhos pequenos ainda mais diminutos.

Todo mundo queria saber. E, durante alguns segundos, ficaram os três em silêncio, olhando para o nada, contemplando aquele suspensezinho gostoso. Finalmente um Zelenskyy generosamente embriagado ou embriagadamente generoso resolveu falar. “Ô, Putin, você não tá putin comigo, né?”. O único que riu da piada foi um senhor que passava pela mesa rumo ao banheiro. “Vamos fazer o seguinte”, ofereceu ele sem os dois pontos e aumentando o suspense.

“Vamos!”, disse um empolgado Biden, mais perdido do que surdo em bingo, cego em tiroteio, cupim em metalúrgica, piolho em cabeça de careca, daltônico montando cubo mágico e cebola na salada de fruta. Putin e Zelenskyy ficaram se encarando por intermináveis segundos. Biden, acreditando estar no meio de uma importantíssima disputa de quem ri por último, entrou na brincadeira também. Até que finalmente Putin e Zelenskyy falaram ao mesmo tempo: “Podepode entrarficar paracom aas OTANprovíncias”.

Selada a paz mundial, Biden pediu a conta. “Deixa que eu pago. Não vai fazer diferença no nosso déficit”, disse. Enquanto a garçonete trazia a maquininha, ele enviou uma mensagem para Kamala. “Não deu certo :-( Precisamos de outra desculpa :-(”. Kamala respondeu com um "Humpf. Só velhos gagás ainda colocam narizinho em emoticon".

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