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Estava no meio do Dostoiévski. Recebendo uma deliciosa massagem da Catota e ao mesmo tempo prendendo uma lição do stárietz Zossima sobre não mentir para si mesmo. Nunca, jamais, em hipótese alguma. Muito menos para justificar algum erro. Quando assim, do nada, completamente à toa, me dei conta de que o mundo pode mesmo se envolver numa temida Terceira Guerra Mundial. E que, se isso acontecer, é grande a chance de o Brasil estar do lado errado.
Sei que você vai dizer que estou exagerando e tendo a concordar. Afinal, nestes meus 45 anos de vida, já vi dezenas (talvez centenas) de atentados e crises no Oriente Médio, e várias vezes se cogitou a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Algo me diz, porém, que desta vez é diferente. O antissemitismo declarado da extrema esquerda é um sinal disso - e não o único. Black Lives Matter, Covid-19 e invasão da Ucrânia talvez também tenham sido e sejam sinais recentes de que o mundo está finalmente maduro para um conflito dessa magnitude.
E aí quando penso que há toda uma geração, ou mais de uma, ansiando por encontrar na guerra um sentido para suas vidas de hedonismo e consumismo, fico com mais medo ainda. Porque me lembro da rave. É, a rave “do pai do Alok”. A rave onde o Hamas assassinou mais de 200 pessoas – e sequestrou e estuprou outras tantas. A rave Universo Paralello (olha só o nome!), realizada para celebrar a paz, o amor, a música eletrônica, essax paradax di xóvens aí. A rave organizada ali, bem pertinho da Faixa de Gaza, como se o perigo estivesse apenas na cabeça de gente careta. A rave sobre a qual um dia ainda preciso escrever detidamente.
Não há como negar: há algo de estranho no ar e não fui eu. O que nos traz de volta à possibilidade de enfrentarmos algo maior e mais trágico. Mais mortal e perigoso para o futuro da Humanidade. Uma Terceira Guerra Mundial. Só que, desta vez, estaremos do lado errado. Do lado de Irã, China, Rússia e Venezuela. Da escumalha representada pelo fracasso ressentido ou, no caso da China, pelo que vou chamar aqui de “sucesso igualitário imposto à força”. Muita força. Tudo por causa de Lula, do PT, de Celso Amorim, de Gleisi Hoffmann. Essa gente. Esse governo que, numa eventual reencenação de 1943, criarão uma Força Expedicionária Brasileira para lutar contra a liberdade. Ou você tem dúvida disso?
Xixi na cama
Aliás, ao compartilhar com alguns amigos esse meu receio exagerado, mas muito vívido e ruidoso em minha imaginação, ouvi óbvias e necessárias comparações com o que aconteceu no Brasil da década de 1940, sob o comando do ditador Getúlio Vargas – assim uma espécie de proto-Lula. De acordo com o que aprendi na escola, Getúlio tinha certo apreço pelo, digamos, nacionalismo ordeiro e racista de alemães e italianos, e só enviou tropas para lutarem contra o fascismo depois de levar uma prensa dos norte-americanos. (E, se me lembro bem, a Cia. Siderúrgica Nacional também entrou no rolo).
Os amigos sugeriram que, no caso de uma Terceira Guerra Mundial, a história se repetirá. “Mas os tempos são outros”, respondo. O mundo é outro. O Brasil é outro. Nosso povo teoricamente é o mesmo, mas é outro, com uma cosmovisão e valores bem diferentes. Não dá para esquecer que houve uma revolução cultural nesse meio-tempo. Conceitos nobres, mas etéreos, como “liberdade” e “honra”, perderam lugar para conceitos vulgares, mas muito concretos, como “prazer” e “sucesso”. A ideia de morrer por um ideal perdeu espaço para a ideia de matar por um ideal – o que é bem diferente. Homens cientes de seu papel histórico e capazes de tomar decisões contrárias à sua vontade, por mais canalhas que fossem, foram substituídos pelos Lulas da vida – por mais canalhas que são.
Para piorar um pouquinho mais a situação, hoje não dá nem para cravar que os Estados Unidos, a maior e praticamente invencível (noves fora a Guerra do Vietnã) potência militar do planeta, vá escolher o lado certo. Ou defender os valores certos. Não dá para cravar nem mesmo que EUA e Europa se unirão em torno de uma causa comum, a ponto de se saírem vitoriosos numa guerra dessas proporções. Ou você consegue imaginar um soldado de cabelo colorido e piercing no nariz, todo besuntado de sociologia e revisionismo histórico, arriscando a vida pela nossa liberdade de dizer que a grama é verde e que uma figura de três lados é um triângulo?
O texto está chegando ao fim e não quero que você fique com a impressão de que, além de exagerado, sou pessimista. Não sou. Acredito na Providência Divina e que tudo concorre para o bem. Só tenho uma imaginação bem convincente e que de vez em quando gosta de se enveredar por uns bosques escuros e assustadores. Mas tudo bem. Você venceu. Vou parar aqui antes que você tenha pesadelos. E acabe fazendo xixi na cama.