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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Socialismo ou mais socialismo: o falso dilema ideológico das eleições municipais

Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (Psol) disputam o 2º turno em São Paulo pela prefeitura da cidade.
Não há escapatória. Todos os candidatos nestas eleição são, em maior ou menor grau, socialistas prometendo medidas socialistas. (Foto: Divulgação)

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Juro que não quero parecer fatalista e dizer que o socialismo venceu. Mas o socialismo venceu. Ou está vencendo. E a maior prova disso é a falsa disputa ideológica armada no segundo turno dessas eleições municipais. Ou você realmente acredita que o pleito em São Paulo, por exemplo, é um embate entre o neoliberal PSDB de Bruno Covas e o socialismo errático do PSOL de Boulos?

Bom, há quem acredite e propague essa dicotomia que há décadas é mais falsa do que a ciência por trás dos lockdowns. Afinal, há interesses nesse teatrinho. E não me refiro, aqui, a interesses pequenos, carguinhos, salários, privilégios. Estou me referindo ao próprio instinto de sobrevivência do Estado, que eliminou seu verdadeiro inimigo, substituindo-o por fantoches.

Não é de agora que o socialismo permeia nossa vida sem que percebamos. Ele está presente na idosa CLT, bem como nas agências reguladoras e no Terceiro Setor. Sem falar na educação planificada e nas inúmeras intervenções na economia. São grandes as chances de todas as leis aprovadas por seu vereador ou deputado e sancionada por seu prefeito, governador ou presidente eleito sob a bandeira do conservadorismo-liberal estar maculada pelo espírito coletivista justiceiro - que também atende pela alcunha de progressismo.

Lembro de ler, há bons 20 anos, o texto de um conservador cujo nome infelizmente me escapa (acho que era o Janer Cristaldo, mas já estou com os olhos ardendo de procurar e não ainda conseguir encontrar na mixórdia da Internet) dizendo que Curitiba era a cidade mais socialista do Brasil. Na época exilado no centro de operações da Esquerda Caviar, a.k.a. Leblon, fiquei todo indignadinho. Como assim a minha Curitiba, que na época era a Curitiba de Lerner, e não de Sergio Moro, pode ser socialista? Ora, não somos nós, os curitibanos, o povo mais reacionário do Brasil? Não nos orgulhamos de nunca termos elegido um petista para a prefeitura? Como assim, djãnho!

Mas, uma a uma, o texto expunha as políticas públicas coletivistas daquela que era então chamada socialisticamente de cidade-modelo. As obrigatoriedades, os incentivos direcionados, a busca pelo progresso, as medidas igualitárias – todo um universo de regras e normas e boas intenções que hoje fazem parte do cotidiano até das menores cidades brasileiras. O texto, que infelizmente se perdeu nos labirintos da Internet, fazia um diagnóstico amplo desse socialismo viral, que se espalha e mata aos poucos, e que muita gente considera até necessário para o bom funcionamento da cidade.

Desinibidos & Envergonhados

E eis que assim, de cidade em cidade, de lei em lei, de decisão do STF em decisão do STF, chegamos ao ponto de nos digladiarmos (eu não; vocês!) por uma disputa entre um partido social-democrata e um partido tão contraditório que contém “socialismo” e “liberdade” no nome. Ora, a social-democracia de Bruno Covas nada mais é do que um socialismo intelectualizado que soube se aproveitar das brechas democráticas para impor uma série de políticas... socialistas.

Vale aqui, talvez, abrir um parêntese para dizer que nem todo socialismo é o socialismo de Nicolás Maduro ou, sei lá, Enver Hoxha. Nem todo socialismo significa perseguições e supressões explícitas aos direitos humanos. Na verdade, esses são exemplos que fogem à regra do socialismo que preza pela discrição, que age nos bastidores, que nos intoxica como chumbo, e com danos equivalentes. Fecha parêntese.

Esse cenário falsamente binário se reproduz em todas as cidades. Manuela D’Ávila, que disputa a prefeitura de Porto Alegre pelo desavergonhado PCdoB, por exemplo, nada mais é do que uma versão desinibida do socialismo fisiológico do MDB de seu oponente, Sebastião Melo. O que dizer, então, do que acontece em Recife, que deveria se assumir e mudar o nome para Arraesópolis de uma vez? Lá, dois representantes socialistas de uma família socialista disputam a possibilidade de fazer uma administração socialista por partidos socialistas. Não tem escapatória.

Mas nem os candidatos apoiados por Jair Bolsonaro?!, você me pergunta. Nem eles. A não ser que você acredite que há algo de realmente conservador-liberal no socialismo teocrático de Marcelo Crivella. Ou em Capitão Wagner (Pros), que disputa com o cirista Sarto a possibilidade de controlar Fortaleza; ou no Delegado Pazolini (Rep), adversário do petista João Coser em Vitória.

É desolador, eu sei, e espero não ter estragado sua noite de sábado ou manhã, tarde e noite de domingo. Minha intenção, aqui, não foi pintar um quadro trágico do nosso futuro. Da nossa liberdade. Ou do pouquíssimo que restou dela. Mas às vezes, sabe como é, você está todo animado, começa a pintar um Juarez Machado e, quando dá por si, vê que o que saiu foi mesmo um Edvard Munch daqueles que requerem Prozac na veia.

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