Queria fazer piada com o STF. Nada grave. Nada perverso. Nada que chegue perto do sadismo de um Louis CK. Queria apenas fazer piada, um gracejo, uma troça, um comentário à toa. Algo que desse início a um ataque de risos (de risos!) naquela corte fria e sisuda e toda cheia de vênias e mutatis mutantis.
Mas não posso. Não podemos. Porque o Ministro Alexandre de Moraes & Cia. estão furiosos com as críticas que a Suprema Corte anda recebendo e sentem que precisam defender sua imagem e a imagem da instituição a qualquer custo. Para tanto, eles estão dispostos a pagar caro. Alô, freguesia, é o carro do mandado de busca e apreensão que tá passando!
Se você rir do STF escrevendo uma sátira, por exemplo, deusolivre! Corre o risco de ter a Justapo na sua porta às seis horas da manhã para apreender seu celular e computador. Charge, então, de jeito nenhum, t’esconjuro! E nem ouse pensar em memes ou quaisquer dessas formas modernosas de humor, toc-toc-toc na madeira! O STF, seus ministros e até aquele pessoal que deve ganhar uns R$20 mil por mês para puxar a cadeira dos meritíssimos são mais sérios e circunspectos do que a seriedade e a circunspecção.
O que me lembra de uma discussão longuíssima sobre Jesus e o riso em O Nome da Rosa, de Umberto Eco, que li já no final da adolescência. Na época, passei apressadamente pela discussão porque estava mais interessado em saber como os monges morreram, mas ela nunca saiu da minha mente. A pergunta “Jesus ria?” é de uma profundidade inesgotável (ao contrário da inteligência de certas pessoas).
Porque uma piada pressupõe todo um universo de virtudes e pecados por parte de quem conta piada, de quem ouve a piada e de quem é alvo da piada. Humor é coisa séria.
Primeiro, o humor tem aquilo de você não se levar a sério, de saber que “a vida é um sopro”, que “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, essas coisas que Jesus certamente sabia, embora tivesse uma perspectiva bem diferente sobre a vida, já que Seu reino é o da Eternidade. Ou será que no Paraíso os anjos não riem de si e entre si?
Mas é inegável que até o humor mais ingênuo tem em si também um quê de perversidade que talvez vá contra o ideal cristão de caridade. Ver uma pessoa escorregando numa casca de banana é algo inegavelmente engraçado, mas também um tanto quanto cruel. Para de rir e vai lá ajudar o Joãozinho, se quebrou todo, o coitado!
Por outro lado, pode-se argumentar que até o humor mais pesado e proibido, do tipo que faz o diabo levar as mãos aos ouvidos, tem um estranho poder redentor. Como qualquer um que já foi alvo de piada sabe, é impossível sair do outro lado deste Vale de Gargalhadas a mesma pessoa. Algo muda dentro de você. Com sorte, muda para melhor. Vai que você percebe, no mínimo, que não é a última bolacha do pacote, não é mesmo?!
Outra coisa que chama a atenção nesta luta do STF contra aqueles que, com alguma razão, confundem aquela anacrônica capa preta da justiça com os gonzos de um bobo-da-corte é o ridículo dessa tentativa de controlar o monstro da opinião pública. Porque mil mandados de busca e apreensão podem ser expedidos nas manhãs frias de quarta-feira e nem assim ninguém jamais conseguirá impedir a história, essa comediante que usa o Tempo como escada para suas troças às vezes sem graça, de considerar “aqueles caras lá” uma... piada.
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