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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Tasso Jereissati é um bom nome

De acordo com o IBGE, há 899 pessoas chamadas Tasso no Brasil. A maioria delas no Ceará. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Tasso Jereissati é um bom nome. Sibilante. Começa com um estalo aberto. É exótico e para saber o significado (corajoso, audaz) você tem que consultar o Google ou um bom dicionário de nomes. Imagino o sr. e a sra. Tasso, lá na remota Fortaleza de 1948, anunciando o nome do filho aos amigos e todos meneando constrangedoramente a cabeça. “Nome diferente, né?” De acordo com o IBGE, há 899 pessoas chamadas Tasso no Brasil. A maioria delas no Ceará.

Já “Adolfo”, independentemente do sobrenome, é um péssimo nome. Tanto é assim que os “nobres lobos” praticamente desapareceram das certidões de nascimento depois que um deles inventou que era Füher. O IBGE aqui me diz que em 2000 apenas 593 meninos ganharam esse nome no Brasil. Em termos normais, o fato de a maioria dos Adolfinhos brasileiros terem sido registrados em Santa Catarina é anedótico. Mas acho que o leitor não anda com bom humor para ver isso como uma deliciosa coincidência.

Deu para perceber que eu gosto muito de nomes, né? Mas não a ponto de acreditar que “nome é destino”, como diz o clichê. Fosse assim, não haveria Hilários tristes, Leonardos burros nem Luíses Inácios honestos. Gosto de nomes pelo que eles têm de peculiar, embora hoje em dia, entre os milhões de Enzos e Sofias assim batizados como quem confere ao filho uma marca de sucesso, esteja cada vez mais difícil encontrar grandes homens de nomes historicamente marcantes.

Último e Austregésilo

Veja o caso de Último de Carvalho, por exemplo. Não, não estou inventando. É um nome real. Último de Carvalho me apareceu ainda no começo do século XXI, quando lia a trilogia de Elio Gaspari sobre a Ditadura Militar. Em meio à leitura maçante daquele período, fiquei imaginando o sofrimento do Ultiminho na escola. E me perguntava se ele não tinha entrado na política justamente para se curar do trauma causado pelo próprio nome próprio. Talvez o sonho de Último fosse ser o primeiro em alguma coisa um dia.

Não sei se ele conseguiu, mas é certo que se destacou dos coleguinhas de turma que caçoavam do nome e hoje estão enterrados e soterrados pelo anonimato de um sobrenome comum qualquer. A quem interessar possa, informo que Último de Carvalho foi deputado federal pelo PSD mineiro. E, entre outros feitos, incentivou a emancipação política da cidade de Pequeri, em Minas Gerais. Algo que deve ter lá sua importância para alguém. Entre as frases de Último de Carvalho que ficaram para a posteridade, destaco esta: “A reforma agrária é a antessala da abolição da propriedade privada”.

Agora, nome que sempre atiçou minha imaginação mesmo é Austregésilo. Tudo por causa de um tal Austregésilo de Athayde que foi presidente da Academia Brasileira de Letras na época em que ser presidente da Academia Brasileira de Letras significava qualquer coisa. Isto é, antes de Paulo Coelho vestir vergonhosamente o fardão que representa o idioma que ele não conhece nem respeita.

Ninguém nasce Austregésilo à toa. Pedindo já desculpas aos 92 brasileiros chamados Austregésilo e que talvez se sintam ofendidos, quem recebe um nome desses (que significa “refém brilhante”) está destinado a uma infância triste e uma vida adulta entre carimbos e mata-borrões. Nunca se viu e arrisco dizer que nunca se verá um Austregésilo todo alegrinho do karaokê, segurando o microfone com as duas mãos e arriscando um falseto para cantar “Sweet Child o’ Mine”. Nunca se viu e arrisco dizer que nunca se verá um Austregésilo marcando um gol de bicicleta. Nunca.

Endosso

Pesquisando para escrever este texto, descubro que Paulo é um nome em decadência. O auge foi justamente na década de 1970, quando nasci todo pimpão no hospital São Vicente. Desde então, porém, os Paulos do Brasil têm diminuído. Eu mesmo não conheço nenhum Paulo bebê. De qualquer forma, somos, de acordo com o IBGE, 1.423.262 Paulos espalhados por esse Brasilzão de meu Deus, a maioria deles no Rio Grande de Sul.

Paulo vem de Saulo e significa “pequeno”. É, eu sei, eu sei. Mas pode tirar o seu cavalinho da chuva com essa piadinha aí que está na ponta da língua. Afinal, o objetivo deste texto foi falar de nomes, mas não só. E se você leu o título e achou que era um endosso ao tucano cearense é porque talvez, só talvez, a política esteja ocupando demais sua vida.

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