Depois de perder a casa no Tigrinho, o cara desta foto apostou o carro na vitória do Moreirense contra o Benfica.| Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
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Depois de passar várias noites em claro, pensando numa forma de aumentar a arrecadação, aumentar a arrecadação, aumentar a arrecadação, os olhinhos de Fernando Haddad ficaram até marejados ao ler uma nota técnica do Banco Central. Nela, o ministro da Fazenda descobriu que, em vez de comprar comida, os mais pobres preferem “investir” o dinheiro do Bolsa Família na promessa fraudulenta de dinheiro fácil dos sites de apostas e do Tigrinho.

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Naquele momento, nascia o Bolsabet: um programa assistencial revolucionário, capaz de aumentar o PIB no Brasil em 10x, 50x, 100x. Pelo menos foi isso o que informou ao ministro o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, que sabe tudo de adição e multiplicação, embora escorregue um pouco na subtração e na divisão, principalmente com dois algarismos na chave. Frações e porcentagem, então, melhor deixar para lá.

Uma vez nascida a ideia, porém, era preciso informá-la ao patrão, Lula. Foi o que Haddad fez, embarcando no primeiro jatinho da FAB disponível – e contribuindo, assim, para aumentar ainda mais o déficit fiscal. Ah, mas o que é que eu tô falando? O Bolsabet vai mudar tudo e em breve todos os brasileiros terão não só a mítica picanha petista como também seu próprio jatinho particular.

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Capinha do Che

Haddad chegou a Brasília. Viu como de avião é mais rápido? E foi logo bater na porta de quem realmente manda em casa. Ao ser informada de que apenas os beneficiários do Bolsa Família, em teoria os mais pobres, mais vulneráveis e mais sujeitos a cair na lábia do assistencialismo eleitoreiro petista, gastaram R$3 bilhões em apostas num único mês, Janja reagiu como uma verdadeira acadêmica: “Pequepê! Eta povinho burro mesmo! Não é à toa que meu marido é presidente”.

E foi logo querendo ligar para o ministro Alexandre de Moraes. “Vou falar pra ele banir todos os sites de apostas do Brasil. Igualzinho ao que ele fez com o Twitter”, disse ela sacando da bolsa Mouawad seu iPhone folheado a ouro, cravejado de brilhantes e com capinha do Che. Ao ouvir aquilo, Haddad se lançou desesperadamente em direção a Janja, arrancando-lhe o aparelho-joia da mão e perguntando: “Janja, você pagou o imposto de importação disso?”.

Depois de emitidas as DARFs, Haddad explicou para Janja o Bolsabet, ressaltando, obviamente, os benefícios políticos, econômicos e sociais do mais novo programa com o selo Lula, Janja & Haddad de inteligência e eficiência. “A gente dá dinheiro pra essa turma jogar no Tigrinho, depois taxa o Tigrinho e os prêmios do Tigrinho e os prejuízos no Tigrinho e e e... O Pochmann me disse que, se a gente apostar metade do PIB do país no Tigrinho e a outra metade no acesso do Coxa à série A do Brasileirão, não tem erro! Seremos o país mais rico do mundo”.

“Vamos contar para o Lula!”

Janja desconfiou, mas não muito. Porque naquele mesmo instante Fernando Haddad sacou o violão e começou a cantar enquanto Janja aproveitava para fazer uma fezinha. Em 5 minutos ela perdeu R$50 mil. Se bem que: “Melhor perder R$50 mil do dinheiro dos outros no Tigrinho do que ter que pagar a multa do STF por ter usado o Twitter”, disse a sábia. Haddad concordou a cabeça e, como um menininho empolgado com o Autorama finalmente montado, disse: “Vamos contar para o Lula!”.

Agora chegou aquele momento do texto em que alguns leitores ficarão brabos comigo, porque usarei Lula como contraponto moral à ideia estúpida de Fernando Haddad. Mas é que preciso de um contraponto, o texto está chegando ao fim... e não tem outro dando sopa. Então serei obrigado a dizer que, ao ouvir a ideia do Bolsabet, Lula hesitou e resmungou algum impropério contra o capitalismo e consumismo e a fome e as queimadas.

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Mas não adianta. Porque Lula é Lula e no instante seguinte ele já estava com o programa Minha Aposta Minha Vida (sim, mudou de nome) todo desenhado em sua mente. “Mas as bancadas evangélica e católica vão chiar”, disse Janja. Não que ela se importasse com isso. Foi só para contrariar o maridão. Que respondeu: “Isso aí o Flávio Dino tira de letra. Pode deixar que eu falo com ele”.

Jogue com responsabilidade

Não deu outra. Em cinco minutos estava criado o Bolsabet e o Minha Aposta Minha Vida. O primeiro destinava R$20 bilhões (só para começar) para apostas no tal do Tigrinho. O segundo, com a desculpa esfarrapada de estimular o esporte e financiar a reconstrução da caída Seleção Brasileira, destinava o dobro para apostas nesses sites cuja publicidade tem a cara-de-pau de trazer o aviso: “Jogue com Responsabilidade”.

E como sou o narrador onisciente desta história, me permito voltar do futuro para dizer o óbvio: deu tudo errado. Os pobres ficaram mais pobres, a classe média empobreceu e até um ou outro rico já não está podendo bancar o caviarzinho de cada dia. Os índices de criminalidade pioraram. A economia entrou em colapso. Não, o Coxa não subiu para a série A do Brasileirão. E Alexandre de Moraes não sofreu impeachment.

Em compensação, diante das dificuldades Lula, antes de mais nada, culpou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o fascismo, o capitalismo e, já que estava nessa toada mesmo, o imperialismo estadunidense. Em seguida, prometeu a criação da Betbrás, um site de apostas estatal à prova de perdas, e anunciou o lançamento imediato do Jogo da Oncinha – com código-fonte garantido pelo TSE. Foi reeleito com 50,5% dos votos e eu, que tinha apostado todos os meus bens no bom senso do brasileiro, me dei mal mais uma vez.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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