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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Me belisca!

Um passeio pelos corredores virtuais da Bolsonaro Store

Eduardo Bolsonaro: “Nosso sonho segue mais vivo do que nunca”. (Foto: Reprodução/ Twitter)

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Como é que vou explicar isso para o meu neto? Foi o que me perguntei ao assistir ao vídeo em que Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente que insiste em se apresentar como a única esperança da direita, anuncia a abertura da Bolsonaro Store. Eu disse “meu neto”? Minto. Como é que vou explicar isso para você, leitor que todos os dias me prestigia com sua companhia neste espaço?

Tentemos com a velha e boa descrição do vídeo. “Quem conhece o passado consegue enxergar melhor o futuro”, começa Eduardo Bolsonaro, parafraseando malandramente George Orwell. Para o escritor inglês, a frase é mais enfática e ameaçadora: quem controla o passado controla o futuro. Mas é claro que um filho de Bolsonaro jamais poderia explicitar dessa forma o caráter propagandístico da empreitada comercial.

Tendo aquela beleza de arquitetura brasiliense ao fundo (estou sendo irônico, por favor), Eduardo Bolsonaro, aquele mesmo que foi à Copa do Catar para distribuir pen drives com informações preciosíssimas do Brasil aos magnatas e poderosos do mundo inteiro, convida você a comprar um calendário para “manter vivo (sic) na sua memória os bons trabalhos do presidente Jair Bolsonaro”.

Calendário. De papel. Em pleno 2023. E com atraso, já que janeiro e fevereiro ficaram para trás. “Além de fotos exclusivas e de qualidade”, continua Eduardo Bolsonaro. Interrompo o vídeo. Começo a ficar constrangido. Mas vamos lá que ainda falta um minuto até o fim da sessão de tortura. “O nosso sonho segue mais vivo do que nunca”, diz ele, sem conseguir sorrir direito. A isso se seguem imagens que, suponho, estão no calendário. Bolsonaro na posse. Bolsonaro atirando. Bolsonaro no meio da motociata. Bolsonaro comendo pastel.

É. Não vai ter jeito. Como não há ninguém aqui em casa para me beliscar neste horário, terei mesmo de entrar na Bolsonaro Store para ter certeza de que meus olhos e ouvidos não me traem. Abro uma aba no navegador. O cursor do mouse avança lentamente. Antes de clicar no link, ainda resta uma esperança de que tudo seja uma piadinha para enganar um jornalista velho como eu. Tem que ser. Não é.

Qualidade premium

Clico no link e, de cara, a surpresa: meu navegador avisa que o site não é seguro. E me pergunta se quero avançar. Quero? Não sei. Quero correr o risco de ter de me deparar com a triste realidade de que a esperança de metade da população jaz ou jazeu sobre os ombros de quem joga um jogo político honesto, mas de várzea em comparação ao Establishment F.C.? Bom, querer não quero. Mas minha editora está aqui me cobrando a coluna (“em cima da minha mesa em cinco minutos!”) e não vejo saída senão... Pronto. Entrei no site.

(Aqui, um parêntese para explicar ao leitor fiel que não, você não leu errado. “Meu editor” virou “minha editora” – mas não é nada disso que você está pensando! O Jones Rossi que você conheceu em textos como “Fake news é crime, Alexandre de Moraes é gênio e meu editor é bonito” e “O urubu e o noivado cafona do senador mais bem avaliado do Brasil (feat. Meu Editor)” continua capitaneando a equipe de Ideias. E agora quem está sujeita a virar personagem é minha editora Angélica Favretto).

Entro no site e vou direto ao primeiro produto anunciado: o tão falado calendário de parede. Me esclarece o site da Bolsonaro Store que “o calendário é um produto que acompanhará seu usuário durante todo o ano”.  Jura? Para emendar com isto (grifos meus): “com um layout diferenciado e feito em material personalizado de qualidade premium (...)”. Não resisto e me belisco. Ai! De fato não estou sonhando.

O calendário custa R$59,90, mas você pode pagar em 11 vezes de R$6,47. Por R$69,90 você também pode comprar uma caneca de chope com os dizeres “Nosso sonho segue mais vivo do que nunca”. Que, percebo só agora, é o slogan do “bolsonarismo no exílio”. A loja, digo, store oferece ainda tábuas de corte e um produto que chamou minha atenção: um troféu de mesa com a silhueta de Bolsonaro, o famigerado slogan, e “com acabamento diferenciado e gravação à lazer”. Grifos meus, erros deles. Essa belezura custa a bagatela de R$109,90.

O site pertence mesmo a Eduardo Bolsonaro e está registrado em nome da Eduardo Bolsonaro Cursos Ltda. Na aba “Sobre Nós”, lê-se que, “para manter vivo (sic) na memória boa parte dos feitos” do ex-presidente Bolsonaro, a loja desenvolveu “produtos com qualidade ímpar, para um público refinado e que preza por excelência”. A missão da empresa é “oferecer produtos de qualidade a um público conservador e exigente”. E a visão é de uma megalomania assustadora: “tornar-se referência em todo Brasil em produtos para o público de direita, marcando presença entre as personalidades políticas do país e do mundo”. Uau.

A quem tem olhos de ver, a iniciativa do filho do ex-presidente é reveladora. Afinal, o amadorismo todo da Bolsonaro Store explica muito do que aconteceu nos últimos anos. Inclusive a tomada do poder pela dupla PT/STF. Não que Eduardo Bolsonaro esteja agindo de má-fé. Escolho acreditar nas boas intenções dele. É só que, mais uma vez, sobrou vontade e delírio. E faltou o essencial: um amigo ou assessor para botar a mão no ombro do parlamentar que nem conheço, mas já chamo pelo apelido, e dizer: “Menos, Dudu. Menos”.

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