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Não é Lula nem Bolsonaro. Não é Deltan Dallagnol nem Alexandre de Moraes. Os outros ministros do STF? Faz-me rir. Esse outro aí em que você está pensando? Que nada! O personagem mais importante da crônica jornalística, na verdade o único que me interessa de verdade, é o leitor. É você. Afinal, nada do que eles fazem ou decidem ou roubam ou corrompem faz sentido se não for pela sua reação. Pela forma como tudo isso afeta a sua vida e a vida daqueles que você ama.
É em você (sim, você!) que penso todos os dias, antes de publicar o texto que o imagino lendo no café da amanhã. Ou no meio do trabalho. Ou na hora do almoço. Diante do celular ou do computador. Sozinho ou cercado por pessoas que, com alguma sorte, em dado momento perguntarão: “Do que é que você tá rindo?”. Eu o imagino chegando ao final do texto alguns miligramas mais leve. Eu o imagino.
Para mim, o leitor (isto é, você) não é um público-alvo abstratíssimo, desses criados pelo departamento de marketing. Para mim, você é um amigo. Saiba disso. Saiba também que, num tempo onde abundam (ui!) relações utilitaristas e cínicas, eu quero seu bem. Não me interessa, pois, ofendê-lo nem reduzi-lo a um ilustre desconhecido que neste exato momento decifra a minha escrita. Não o tenho por instrumento de autoglorificação. Não. Para mim, você é um ser humano de carne e osso e alma. Sobretudo alma.
Você
Você que às vezes me salva – e nem sabe. Você que confere um sentido maior a este espaço que, de outra forma, seria apenas um trabalho burocrático e robótico. Ou então apenas mais um panfleto gritando “absurdo!”, “inadmissível”, “precisamos fazer alguma coisa sobre isso!” e outras platitudes tão histéricas quanto inócuas. Você que se sabe falho, mas se esforça. Você que precisa que a vida o acaricie de vez em quando. Você que se pergunta, que não entende, que continua se perguntando. Você que busca desesperadamente a redenção. Você que está correndo para medir a glicose depois de ler este texto piegas. Você que está dando de ombros. Você que está se perguntando “por que é que esse cara tá escrevendo isso?”.
Escrevo isso sem qualquer motivação oculta. Sei que parece inacreditável, mas estou sendo absolutamente franco com você, leitor. Meu coração está aqui, ó. Faça o que quiser com ele. Escrevo isso para que você entenda que não sou seu adversário ou inimigo. Que me sinto irmanado nesse nosso cotidiano de indignação e dúvidas. Que me preocupo também com os rumos do país, embora tenha a tendência a menosprezar minha importância num debate público no qual minha palavra é só um sussurro. Bem escrito, vá lá, mas ainda assim um sussurro.
Também escrevo para pedir desculpas por, aqui e ali, não corresponder às suas expectativas. Sei que você, leitor, muitas vezes só quer ver espelhadas nessas linhas uma opinião já formada. Só quer um argumento que confirme: você tem razão. Só quer ouvir ecos da sua voz. Só quer rir aquela risada distante de quem contempla a mentira se esforçando para passar por verdade. E às vezes isso realmente acontece. De uma forma que só posso considerar divina. Mas às vezes eu fracasso em minha tentativa de alimentar uma pulguinha virtuosa aí atrás da sua orelha. Daí o pedido de desculpas.
Por fim, escrevo isso para agradecer a oportunidade de fazer uma diferençazinha bem inhazinha mesmo na sua vida. Da mesma forma que você faz na minha. Escrever pode ser um ato mesquinho, egoísta e autocongratulatório, mas ler não. Ler é sempre um ato de generosidade. Ainda mais nesse nosso tempo de ensimesmamento, né? E, num mundo onde todos têm a oportunidade de dar sua opinião, sem que para isso precisem se preocupar com argumentos, com a forma ou com as consequências de suas palavras, saiba que ter sua companhia aqui neste espaço é um privilégio que não me escapa. Obrigado.