Assim que li a matéria do grande Leonardo Desideri nesta Gazeta do Povo, minha primeira reação foi a de me lembrar do antológico slogan do analgésico Doril: “Tomou Doril, a dor sumiu!”. Depois, tive pena. Tive dó. De mim, de você, dos deputados Nikolas Ferreira e Carla Zambelli. De todos nós, brasileiros que depositamos nossa esperança em Elon Musk e em alguma medida acreditamos que a pressão do bilionário faria Alexandre de Moraes sair com o rabo enfiado entre as pernas.
Não foi desta vez. Desideri nos informa que a última ocasião em que Elon Musk mencionou remotamente seu papel de aliado na luta pela liberdade de expressão no Brasil foi no dia 3 de maio. Faz tempo. Muito tempo para quem, no auge da peleja, prometeu, insinuou (ou, sei lá, talvez eu não tenha entendido direito) até mesmo restaurar a conta dos brasileiros censurados por ordem de Alexandre de Moraes, como Rodrigo Constantino e Guilherme Fiuza.
Desde então, muita coisa aconteceu. Ou melhor, muito nada aconteceu. Alexandre de Moraes incluiu Elon Musk no famigerado inquérito das fake news. Brasileiros expuseram a situação do Brasil para os congressistas dos Estados Unidos. Uma deputada norte-americana ameaçou tirar o visto de Alexandre de Moraes, que não poderia mais participar dos regabofes do STF em Nova York. E só. E nada.
A tal ponto que o ministro, outrora fragilizado (de acordo com todos os comentaristas otimistas e equivocados, como este que vos escreve), recuperou totalmente seu poder absoluto e alheio às garantias constitucionais e a qualquer coisa remotamente parecida com compaixão. Alexandre de Moraes mandou prender idoso com câncer. Mandou prender envolvidos no 8/1 porque outros envolvidos fugiram.
Medidas enérgicas
E não há nenhum sinal de que Alexandre de Moraes pretenda tirar o pé do acelerador autoritário. Pelo contrário! Unidos nessa cruzada insana, de acordo com a revista Veja os demais ministros do STF se dizem gratos (isso mesmo: gratos!) pelo que eles chamam de “medidas enérgicas”, mas que é puro autoritarismo e eufemismo nenhum mudará isso, de Alexandre de Moraes.
Ainda de acordo com a Veja, graças à censura, truculência e sadismo alexandrino, agora os ministros se consideram capazes de andar tranquilamente pelas ruas das grandes cidades. É isso o que os psiquiatras chamam de “delírio coletivo”? Deve ser. De qualquer forma, aproveito para reforçar o meu convite: venha tomar uma cerveja comigo no Bar do Dante, Xandão! Vamos fazer um brinde a isso que você chama de democracia e eu chamo de [CENSURADO].
Mas lá em cima mencionei dó e pena e me ocorre aqui que você talvez esteja achando que fui jocoso & debochado. Não fui. Juro! Não neste caso. É mesmo uma pena ver um deputado federal afetando intimidade com Musk para perguntar se o bilionário tem alguma novidade nessa história aí de liberdade de imprensa. Dá dó ver Carla Zambelli ter um tiquinho de razão ao dizer que estamos vivendo um inferno aqui, antes de implorar: “Nos ajude!”.
Nada contra o sujeito, mas é de partir o coração que tenhamos que depositar nossa esperança em personagens como Elon Musk. Em personagens que, apesar de toda a boa vontade e sinceridade e suposto apego à causa, têm um quê de caricatura. São empreiteiros de Babel. São quixotes de ocasião. São heróis com TDAH, que num dia estão empenhados em salvar a liberdade neste país esquecido pela deusa da democracia... e no outro estão jogando videogame, lançando foguetes, contando bilhões, etc. Nada contra.
[O vídeo abaixo vai ao ar às 10 horas de quinta-feira, dia 30 de maio]
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