| Foto:

Crônica publicada originalmente no caderno Verão da Gazeta do Povo de sexta-feira (31).

CARREGANDO :)

Todo mundo vai pro Litoral nesta época do ano sem ver a hora de dar aquele relax na praia, de estender o esqueleto na areia feito cachorro tomando sol no quintal de casa. O cabra está na estrada, naquele congestionamento de encher capa de jornal, mas só mentalizando a abertura da primeira cerveja da temporada.

Publicidade

Parece até que dá pra ouvir o barulhinho. O lacre da lata se rompendo, o líquido borbulhando pra fora. E por mais que a criançada se pegue no catiripapo no banco de trás do bólido e que a mulher não pare de ordenar pra que ele faça alguma coisa em relação aquilo (afinal, “são teus filhos”, ela sempre enfatiza isso), apenas um som chega aos ouvidos do pai de família nas férias: o tsiii da latinha de cerveja sendo aberta. É esse o prêmio que ele deseja por ter trabalhado tanto o ano todo: o tsiii da latinha de cerveja.

Mas o som da liberdade tem um preço. E é caro – sem contar o do farnel de cerveja no supermercado, que anda pela beira da morte. Não basta pegar a BR-277 e pagar pedágio pra sentar na cadeirinha de praia com a brisa na cara e uma gelada à mão. A estrada é bem mais longa, meu chapa.

O primeiro quilômetro a ser rodado é achar espaço no porta-mala para a quantidade absurda de cerveja que você pretende levar. Tudo bem, todos sabemos dos efeitos que a proximidade do mar causa, como o de deixar o preço de tudo, especialmente o da cerveja, muito mais salgado no Litoral. Mas não é a terceira guerra mundial e a cerveja, apesar daqueles cunhados folgados e beberrões, não vai acabar no mundo. Portanto, maneire na quantidade e deixe espaço para a bagagem da família – você não vai querer que sua esposa e filhos andem nus pela praia, vai?

Outro ponto é que antes do abençoado gole você tem que dar uma geral na casa. Sempre tem a torneira que não funciona, aquela telha pra trocar e uma boa faxina que o imóvel não vê faz tempo. E durante esses serviços gerais você vai se deparar com um momento difícil: o encontro com as latinhas vazias acumuladas do último churrasco. Mas resista! Ainda não é chegado o momento.

Depois da faxina, tem a definição da disposição dos quartos. Quem fica onde e com quem. E aí é aquela briga de sempre. A sogra que reclama que o quarto dela é o mais quente da casa, a cunhada que viu uma barata rondando a cama dela, a irmã que diz que você está dando os melhores quartos pra família da sua esposa… E evidentemente, quem vai apartar tudo isso é você.

Publicidade

Se depois de tudo isso você ainda estiver vivo e com forças, aí sim vai poder abrir uma cervejinha. Até porque você vai precisar mesmo. Tsiii…