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O Uruguai já foi um país rico. Era chamado de a Suíça sul-americana até a metade do século passado, tamanha a qualidade de vida do pequenino país encravado entre Argentina e Brasil. A boa vida ali era resultado das exportações de carne bovina e couro, o que ainda mantém a economia deles. Mas com uma pujança muitíssimo inferior à daqueles belos tempos.

Hoje o país se sustenta a duras penas. Não tem indústria e nem mercado interno – são só 3,3 milhões de habitantes, metade na capital, Montevidéu.

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A decadência econômica uruguaia se nota em três frentes.

Primeiro, no abismo que o futebol uruguaio se lançou desde a década de 70, com um pequeno lampejo de força na década de 80, graças a uma geração talentosa (Rodolfo Rodriguez, De Léon, Dario Pereyra e o maior deles, Francescoli). Bicampeão mundial e bicampeão olímpico, há 60 anos o Uruguai não ganha uma Copa, há 15 anos não vence a Copa América e há 22 que uma equipe de lá não leva a Libertadores.

O segundo indício está bem no centro de Montevidéu, na Praça Independência. Trata-se do Palácio Salvo, um edifício imponente dos anos 1920, construído para ser um hotel do mesmo nível dos mais refinados de Paris e Londres. Nas últimas décadas, virou uma espécie de cortiço no coração da cidade.

O terceiro indicador se percebe por todos os lados de Montevidéu: pessoas bem-vestidas, educadas, simpáticas e, sobretudo, gentis, muito gentis. Mas desdentadas – incluindo os jovens.

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Me dei conta de tudo isso quando, em uma tarde ensolarada de fevereiro de 2003, eu e meus amigos André Gonçalves e Badas paramos para pedir informação a um taxista no ponto da Praça Independência. O que era para ser uma conversa curta logo ganhou contorno de um bom bate-papo. E de repente, estávamos cercados pelos taxistas, que não paravam de nos perguntar por que escolhemos o país deles para fazer turismo, incrédulos de que ali havia coisas interessantes para se ver.

Após as amenidades, o assunto, como não poderia deixar de ser, descambou para o futebol. E aí nós três esquecemos de onde queríamos ir e ficamos de vez por ali, empolgados com a conversa. E os taxistas, em coro, nos falavam orgulhosos do Maracanazzo, para eles tão importante quanto a batalha da independência do país.

Não paravam de tirar sarro da gente. Até que um deles, o mais velho e com menos dentes na boca, disse quase em lágrimas: “Sempre rimos de vocês. Em compensação, creio que nunca mais chegaremos a uma final de Copa do Mundo. Mal e mal conseguimos nos classificar…”, resignou-se.

Por causa daquele senhor, torci com todas as minhas forças para que o Uruguai não só chegasse à final, mas sobretudo ao título. Não deu.

Mesmo assim, tenho certeza de que ele não se omitiu em mostrar aquele sorriso banguela e alegre nos últimos dias. Ao menos no futebol, o Uruguai está de volta à elite.

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