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Publicado originalmente no caderno de Esportes da edição impressa da Gazeta do Povo desse sábado (10).

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Holandeses ou espanhóis entrarão amanhã para o seleto grupo dos campeões mundiais. Mas com todo o respeito que devo às duas merecidas finalistas, a grande campeã da Copa 2010 é a Ale­­manha. Dessa e da edição passada, quando quem apareceu na foto oficial foi a Itália.

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Não se trata de nenhuma in­­justiça cometida contra os germânicos que os impedisse de che­­gar à conquista. Nenhuma arbitragem os prejudicou – na verdade até os beneficiaram, ao menos nessa, com o gol inglês anulado incorretamente. Trata-se do lado social.

Nessas duas Copas, a Alema­­nha deu um passo enorme para resolver duas de suas maiores mazelas: fazer a reunificação de fato e mostrar que o país está mes­­mo disposto a lutar contra a xenofobia.

A queda do Muro de Berlim aconteceu em 1989. Mas foi em 2006, com a disputa do Mundial em casa, que a sociedade alemã voltou a ser uma unidade de verdade. Durante a Copa passada, as sobras da Guerra Fria ficaram pa­­ra trás.

Alemães dos dois lados do mu­­ro derrubado foram juntos às ruas com seus copos de chope torcer pelo Nationalelf, que pela primeira vez assim pôde ser considerado. Ocidentais e orientais deixaram de existir – passaram a ser apenas alemães.

Em 2010, os alemães foram além. Apresentaram avanços tá­­ticos e formaram uma seleção em que quase metade dos convocados (11 dos 23) não é de origem germânica.

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Nas quatro linhas, nada do tradicional pragmatismo alemão. O que a equipe do técnico Joachin Löw apresentou foi um futebol ofensivo, de movimentação e toque de bola. Não há como se comprovar cientificamente, mas tenho comigo que esse avanço em campo é sim resultado da mistura de raças.

Cinco jogadores nasceram em outros países – os poloneses Po­­d­­olski, Klose e Trochowski, o bósnio Marin e o brasileiro Ca­­cau – e seis são filhos de imigrantes – Özil e Tasci (de descendência turca), Khedira (tunisiana), Aogo (nigeriana), Boateng (ga­­nense) e Gomez (espanhola).

Foi muito bom essa equipe ter ido longe. Além de ser das poucas seleções a jogar para frente na Copa, o exemplo alemão mostra que a mistura de povos faz bem.

Lição que espero que a África do Sul, onde ainda se respira o ar pe­­sado da herança do apartheid, to­­me para si.

E ainda dizem que futebol é uma coisa sem importância.

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