Ao contrário da maioria das pessoas, não gosto de calor. Temperatura alta me deixa indisposto. Ao ponto de o simples ato de abrir os olhos quando acordo se transformar em uma verdadeira tarefa de Hércules. Parece que as pálpebras pesam toneladas, não respondem aos meus impulsos.
E pela previsão, daqui até março se eu não me cuidar, meus olhos cicatrizam de vez. Aí me restará apenas a escuridão. E este calor senegalês, que evidentemente não me dará trégua.
Se as pálpebras pesam toneladas, o que dizer do resto do corpo?
No verão, a sensação que tenho é de que meu corpanzil funciona no piloto automático. Meu cérebro simplesmente não quer fazer as coisas mais triviais do dia a dia, como subir escadas. Ele sabe que com o termômetro marcando 30 e poucos graus é muito melhor ficar largado na poltrona da sala com o ventilador ligado a centímetros de distância. Mas não posso. Tenho que trabalhar e tocar meu dia. Sorte que meus ossos e músculos agem praticamente por conta própria.
Lembro de uma história que meu pai conta do meu bisavô. Diz ele que o velho Antonio Zequin, italianão chegado num vinho – como não poderia deixar de ser – pegava a carroça e saía pra beber na mercearia quase todo fim de tarde, depois de passar o dia todo na lida da lavoura de café. Bebia tanto que quase nunca tinha condições de guiar na volta.
Mas não havia problema. O cavalo estava tão acostumado a fazer o trajeto que bastava o nonno subir na carroça – ou, mais provável, alguém colocá-lo lá -, pro alazão partir por conta própria até o sítio, com o bello dormindo ao longo de todo o caminho.
Meu corpo é a mesma coisa no calor. Está condicionado que nem o cavalo do velho Antonio Zequin. Basta minha alma montar no corpo pra que os ossos e músculos façam a sua parte sozinhos. Em um ritmo um pouco mais lento, mas sozinhos. Porque se depender do cérebro…
Outra coisa que me incomoda no calor é que não sei o que fazer com as mãos. Não sei se existe isso, mas devo sofrer da síndrome das mãos inquietas ou algo assim. Esfrego uma na outra, bato a mão fechada na outra aberta, faço batucada em objetos. Não consigo ficar com elas paradas. E isso tudo se intensifica com temperatura alta.
Só consigo sossegá-las quando as ponho no bolso. E no calor a oferta de bolsos nas roupas diminui drasticamente. São só os da calça. E olhe lá. No frio não. Com a temperatura baixa, sobram bolsos nas jaquetas e blusas para acalmar minhas mãos e guardar a mais variada sorte de papéis e tranqueiras que junto ao longo do dia.
Mas, como escrevi lá no começo, reconheço que sou minoria nessa reclamação contra o calor. Porque o povão quer mesmo é fritar ovo no asfalto.
Então, melhor deixar isso tudo pra lá e jogar logo fora esse texto. O problema é onde deixar essa folha de papel amassada até que eu encontre uma lixeira.
Que falta me fazem os bolsos das minha jaqueta…
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