Texto originalmente publicado no caderno Verão da Gazeta do Povo do último sábado (12)
Tudo bem, modismo é assim mesmo. De uma hora para outra, sem aviso, o ritmo do momento muda, a nova balada de sucesso está por todos os lugares, e você, que não tem nada com a cotação do dólar, se pega cantarolando sem perceber aquela canção grudenta, que não sai da cabeça de jeito nenhum. Martela mais do que porrete de pedreiro quebrando a parede do vizinho numa manhã de ressaca.
A onda musical da temporada de praia já foi a lambada, o axé, o pagode e o funk carioca. A vez agora é do sertanejo. O tal do sertanejo universitário – cuja diferença eu não sei qual é para o sertanejo anterior, que, por sinal, também já esteve na moda alguns anos atrás.
Nada contra quem tem predileção pelo dito-cujo ritmo. Gosto, como dizem, é que nem rosto (se é que vocês entendem o eufemismo): cada um com o seu. Mas, sejamos sinceros, rapaziada da boa fé, gente da boa esperança: precisa tocar a cada minuto, em cada esquina?
Chega a ser desesperador. No bar, no restaurante, na praia, na praça, no hospital, na delegacia de polícia… A mesma música, a mesma voz. Uma perseguição implacável e desleal.
É praticamente uma lobotomia sem necessidade de intervenção cirúrgica. Quanto mais você tenta se livrar, mais a música se encalacra na memória, arrastando todos os pensamentos que ousarem se encontrar pelo cérebro naquele instante.
E para quem se ilude de que pode ser mais forte do que essa onda, lanço o alerta: lutar é botar pólvora molhada na garrucha, rapaziada – não adianta nada. É uma batalha em que se já entra mais do que derrotado. Entra-se destroçado, sem a mínima chance de reação.
Diante disso, nobre companheiro de ouvidos cansados, cara moçoila de tímpanos feridos, resta nos conformarmos de uma vez de que o jeito é mesmo dar uma fugidinha com você (para muito longe de onde estiver tocando isso!).