Essa desculpinha pra lá de esfarrapada que as pessoas dão de não terem tempo para ler é conversa pra boi dormir. Mas pro marido da vaca dormir pesado mesmo, de cicatrizar o olho do bichão de tanto roncar e babar lá no pasto da fazenda. E do jeito que a rapaziada conta esse lero-lero – é uma coisa indiscriminada, sem dúvida -, já deve ter não sei quantos latifúndios por esse Brasilzão afora só de bois que tombaram na curva, verdadeiros dormitórios bovinos.
Pois toca o berrante aí que está na hora de despertar esse rebanho. Porque, como diria o finado seu Nivaldo (esse tem feito falta pelas bandas de cá…), pai dos meus amigos Cristiano e Juliano, quem quer faz; quem não quer, inventa uma desculpa.
Já falei em um post anterior que tive um professor na escola que dizia que há quatro momentos em nossas vidas que são pura perda de tempo e que, portanto, deveríamos sempre ter algo para ler. Os quatro momentos são as viagens de ônibus e de avião (estendo a recomendação do meu professor também às viagens de trem, mas isso, infelizmente, só quando você for para fora do país), filas de espera e banheiro em casos de necessidades, digamos, mais demoradas. Para as breves não há tempo hábil para a leitura – bom, vocês entenderam…
Em relação às viagens, nem todo mundo faz. Mas de fila e banheiro, ninguém escapa. Dessas duas ações fisiológicas – pelo menos aqui no Brasil as filas são, já que o sujeito entra nelas tanto quanto vai ao banheiro, ou talvez até mais, no caso de quem sofre de intestino preso -, dá pra pôr de pouquinho em pouquinho a leitura em dia.
Em viagens e filas, recomenda-se uma seleção antecipada e um pouco mais criteriosa. Como o tempo é maior, o ideal é ter à mão livros de prosa longa, como romances. Com prosa curta ou mesmo poesia a leitura pode terminar antes da viagem ou da fila acabar. Aí você corre o risco de ser obrigado a ter que falar com o chato do sujeito do lado – e, registre-se, chato adora puxar papo. Revistas também não são aconselháveis pelo mesmo motivo: são tiro curto.
Já em se tratando de banheiro recomenda-se leitura breve, para que você capte o conteúdo naquele curto período. E aí é que mora o perigo. O diferencial nesse caso é que geralmente você está no ambiente do lar – afinal, boa parte da população não consegue botar o time em campo jogando no estádio adversário. E em casa as opções de leitura são muitas, difíceis de serem feitas. Ainda mais em um momento de tamanha pressão: são nos clássicos que os jogadores querem mostrar serviço e não vêem a hora de pisar no gramado. E eles sabem que a qualquer momento o juiz pode apitar e aí, meu amigo, não tem xixi-minha-nêga: o espetáculo tem que começar imediatamente, todo mundo em campo, custe o que custar – literalmente!
Pensando nessa dificuldade que todos temos, de escolher a literatura de banheiro rapidamente, resolvi prestar um serviço. Abaixo, dez sugestões para acompanhá-lo naquilo que só você pode fazer por você mesmo. São leituras milimétricas, pra que você relaxe e deixe a coisa a fluir numa relax, numa tranqüila, numa boa.
Curta o momento!
Placar
Principal revista de futebol do Brasil, há anos a Placar presta um enorme serviço nos momentos de aperto fisiológico da rapaziada. Com uma Placar na mão, não tem erro no banheiro: é pimba na gorduchinha. Destaque para as edições especiais, como a lista dos maiores craques, a edição dos maiores esquadrões de todos os tempos ou os guias de campeonatos, em especial o do Brasileirão.
Enciclopédias
Opção de mais conteúdo, para pessoas que têm interesse em obter um vasto conhecimento das mais variadas áreas do conhecimento no curto espaço de tempo de sua passagem pelo banheiro. Cai muito bem no banheiro também pelo formato. Como os verbetes são curtos, a leitura é rápida e de fácil assimilação, proporcionando um alto grau de conhecimento em pouquíssimo tempo.
Gibis
Leitura mais lúdica. Ganha importância pelo fato de as ilustrações distraírem o leitor, deixando-no mais relaxado, o que facilita o objetivo principal da ida ao banheiro. O que vai determinar o conteúdo é o perfil do usuário do banheiro. Aos jovens, super-heróis – Marvel e DC Comics. Aos saudosos, personagens da infância querida e distante – Turma da Mônica, Disney, entre outros. Aos mais velhos, os clássicos – destaque para Tex, o cowboy mais temido do velho Oeste.
Mad
Em mais uma das idas e vindas de Alfred E. Neumann, a revista mais escrachada do mundo voltou a ser publicada no Brasil ano passado. Mas sem aquela vibe positiva das edições antigas. Portanto, essa indicação exige um pouco de trabalho: o de tentar resgatar a antiga coleção guardada não se sabe onde ou adquirir algumas revistas em sebos. No segundo caso, uma dica. Vasculhe até encontrar edições em que as montagens de dobraduras da contracapa não tenham sido feitas. Sem dúvida, é a parte de que se tira mais proveito no banheiro.
Coleção Para Gostar de Ler
Clássico nas escolas nos anos 70 e 80. Clássico nos banheiros sempre. A coleção reúne grandes craques da crônica brasileira (Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo, Stanislaw Ponte Preta, entre outros) em textos curtos e leves, ideais para o banheiro. Como os livros são finos, em cada ida ao WC é possível ler uma edição inteira. Assim, evita-se a necessidade de se ir ao banheiro mais vezes para concluir a leitura da obra.
Chiclete com Banana/ Piratas do Tietê/ Geraldão
Tríade sagrada do humor impresso brasileiro, as revistas assinadas pelos cartunistas Angeli, Laerte e Glauco são indispensáveis para quem está no aperto de ir ao banheiro. Piadas rápidas e certeiras, para quem quer se divertir rápido. Ao que tudo indica, as revistas foram publicadas exatamente para o público que aprecia ler no banheiro.
Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos
São 5.142 frases reunidas em livro do maior frasista desse país, o jornalista, cartunista, dramaturgo, escritor e tradutor Millôr Fernandes. Indicado para quem pretende usar citações bem-humoradas, sem pedantismo, nas mais variadas rodas de conversa. Como esta, referente ao próprio banheiro: “Só no banheiro temos o tempo e a paz para a autocrítica”. Atenção: por ser um livro de mais de 600 páginas, não é recomendado ser lido de uma só vez no banheiro.
Guinness Book
Se você tenta ocupar um tempo que seria inútil na sua vida lendo, boa parte das pessoas que estão no Guinness Book não tem a mesma mentalidade. Mas nem por isso elas deixam de ter conexão com você. Afinal, tudo leva a crer que elas vão atrás dos recordes mais idiotas justamente para você ter com o que se divertir lendo no banheiro. Mas é recomendável sempre ter uma edição atualizada. Do contrário, corre-se o risco de saber apenas de recorde antigos.
Caras
Ter uma Caras em mãos é ter todo o glamour e estilo do jet set como companhia exclusiva no banheiro. Saber como vivem os astros, pessoas especiais, que sabem muito bem superar suas frustrações amorosas à base de muito champanhe e caviar. De vez em quando há fotos de mansões, mostrando os banheiros dos famosos. Isso permite a você comparar como seria agradável fazer suas necessidades em uma toalete com descarga de água mineral importada e torneiras banhadas a ouro.
Revistas de novelas
O cotidiano corrido muitas vezes não nos permite ficar em dia com o lazer, como no caso de quem não pode acompanhar todos os capítulos das novelas. Mas uma rápida leitura em uma dessas revistas – que pode ser perfeitamente feita nos minutinhos que você ocupa o banheiro – e tudo se resolve. Se você não sabia que a Flora deixou o lado do bem para vestir a camisa 10 do mal na novela das oito, tudo bem. Basta pôr uma dessas revistinhas embaixo do braço e se deslocar até o banheiro mais próximo.