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As noites aqui em casa têm sido de muita diversão. Não, não se tratam de festinhas insanas que obriguem os vizinhos a chamar a polícia para acabar com a perturbação do sossego alheio. Apesar da minha presença, isso aqui ainda é uma casa de família. E o que tem feito a rapaziada aqui de casa rachar o bico de rir são justamente algumas lembranças familiares.

Desde que minha mãe resolveu desencavar das gavetas alguns velhos álbuns de fotografias, as risadas estão garantidas. À noite, nos juntamos eu, ela e meu irmão na sala para darmos umas boas gargalhadas daquelas imagens já amareladas pelo tempo. E o alvo geralmente sou eu.

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Explico.

Desde criança não sou chegado a fotos. Na verdade isso vem de muito antes. Já na ultrassonografia, nota-se claramente minha irritação em ter minha privacidade uterina invadida. Percebo naquelas imagens escuras minha tentativa em fechar a cortina de placenta com as mãos ainda sem dedos para não ser incomodado. Nunca na história da obstetrícia houve um feto com uma cara tão durona quanto a minha.

Essa ojeriza por cliques segue ainda hoje. Agora mesmo, na minha última viagem de férias, se não fossem meu irmão e, principalmente, minha amiga Iza me obrigarem a posar para alguns retratos e eu não teria muitas lembranças do passeio.

O que tem feito a moçada rir a cada página de álbum virada é exatamente esse meu semblante amarrado nas fotografias. Difícil uma em que eu não esteja com cara de brabo.

Lembro que cada vez que íamos fazer uma foto da família o tempo fechava. Eu, tentando escapar daquilo de todas as maneiras e minha mãe ou, principalmente, meu pai, nem sempre de uma forma muito gentil, me obrigando a sentar do lado de um deles para termos mais uma imagem feliz. Feliz para eles, pois da minha parte aquilo era tortura.

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O resultado é que, não só nos álbuns, mas também na parede do corredor aqui de casa repleta de fotografias da nossa família, sempre está lá o pequeno Marquito e sua carinha de quem comeu um vidro inteiro de pimenta estragada: um bico deste tamanho.

Do sofá da sala vou aguentando as pilhérias. Mas garimpando as páginas dos álbuns, eis que encontro uma imagem em que finalmente não estou sisudo (essa aí do lado do texto).

Uma em que estou sentado no banco de uma praça, camisa social para dentro da calça, pernas cruzadas com elegância, mão direita na canela, a esquerda esticada no encosto do assento, sorrisão largo e sincero e, do alto dos meus 3 ou 4 anos de idade, um olhar decidido para frente, para o por vir da vida (viesse o que viesse).

Desde que revi aquele gurizinho cheio de panca, fico me perguntando em que momento da minha vida eu perdi aquela pose de galã – que tanto sucesso devia fazer entre as garotinhas da creche – para me transformar nesse menino mal-humorado e ranzinza das fotografias que me acompanham até hoje.

Sinceramente, não achei a menor graça…

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