Não sei o que anda acontecendo com essa rapaziada. Agora todo mundo quer sair de casa. A onda é buscar apartamento pra alugar, fazer cálculo pra ver se dá pra encarar o financiamento de um imóvel, acertar os ponteiros com a namorada (o) pra dividir as contas no final do mês. Enfim, essas questiúnculas de quem quer passar de fase no videogame da vida. Os mais ousados chegam a se mudar de cidade, quando não, vejam vocês, de país!
Mas será que ninguém mais valoriza o aconchego do lar em que foi criado? Ninguém mais reconhece o valor de um café da manhã feito pela mãe, ali na mesa bem cedinho, pronto para ser saboreado por volta das 11, 11 e meia da manhã? Pão quentinho, café preto e bolinho caseiro não tem em qualquer lugar não, moçada.
E só pra constar: esse serviço não está incluído no preço do aluguel. Muito menos nas prestações do financiamento da Caixa Econômica Federal. Não pensem vocês que casa própria é hotel, que basta acordar, tirar a remela dos olhos e descer uns minutinhos antes de o relógio dar 10 horas pra garantir o desjejum. Morando sozinho o buraco é mais embaixo, maibróder.
Ninguém reconhece mais nem o suor da empregada doméstica, aquela abnegada que se dedica ao seu bem-estar desde quando você era um pirralho ranhento; aquela pobre que deixa suas roupas limpinhas e passadas, com o cheirinho de amaciante que perfuma as gavetas. Será que, ao deixá-la sozinha na casa dos pais, essa rapaziada não se dá conta de que ela, depois da sua própria mãe, é a boa alma que mais te trata bem? Vale a pena deixá-la desamparada?
Não vou falar dos cães porque é de cortar o coração. A pessoa acorda um dia encasquetada de que tem de ir embora e deixa o bicho lá, largado, entregue à própria sorte. Aí um belo dia vem o sentimento de culpa. A pessoa liga pra mãe dizendo que vai dar uma passadinha pra visitar o totó. Leva um pacote de ração, dessas marcas novas, que prometem pêlo sedoso e fezes firmes. E acredita que com isso está paga a dívida de ingratidão com o animalzinho. Nem bicho merece tamanha frieza e desfaçatez, pois, como diria um certo ex-ministro, cachorro também é gente.
Certo mesmo está um amigo meu, cabra à moda antiga, que sabe reconhecer o valor da família. Tanto que o sujeito já deixou todo mundo avisado lá na casa dele: só vai procurar outro lugar pra morar quando estiver ali pela faixa dos 45, 46 anos de idade, maduro realmente pra encarar um novo lar. Até porque esse mundo ainda muito perigoso pra um filho andar sozinho por aí, sem sequer um bolinho da mamãe no café da manhã pra começar bem o dia.