Acontece comigo direto. E provavelmente você também passe por isso quando assiste a algum jogo no estádio ou pela televisão.
Diante do show de horrores que alguns pernas-de-pau nos proporcionam, você olha para um lado, olha paro o outro, abstrai-se alguns minutinhos da partida e, sem que ninguém perceba, muito discretamente, muito à francesa, dá uma descidinha até o porão da consciência para se autoquestionar: mas será mesmo que eu não teria uma chancezinha de ser jogador de futebol?
Cada vez que isso me vem à cabeça imagino tudo o que poderia ter vivido. Conhecer estádios de todo o país e, quem sabe, do exterior. Melhor: jogar em cada um deles e depois, já velho, com meu neto ao colo, contar a ele que no gramado daquele estádio eu joguei uma partida decisiva em que fui fundamental para a equipe com um gol ou um passe. Melhor (supremacia máxima da bola!): ter uma torcida inteira a gritar meu nome.
Ao invés de somente falar de futebol com meus amigos, eu viveria o futebol. Seria parte do processo, dessa ilusão que tanto alimenta nossas fantasias (lembremos Nelson Rodrigues: “das coisas sem importância, o futebol é a mais importante”).
E as entrevistas? Chego a me ver participando de uma mesa-redonda, recebendo mais um prêmio de melhor jogador da partida. E lá pelas tantas, um dos jornalistas da bancada, de preferência o mais respeitado da crônica esportiva (o bom de sonhar é que podemos abrir mão da humildade sem que isso nos pese a consciência), vira-se para mim e pergunta: “Com esse futebol que você vem demonstrando, já pensa em seleção brasileira?”
Claro que pensaria na Amarelinha se aquilo fosse verdadeiro. Só que justamente nesse momento despenco na realidade. Desperto sabendo muito bem que não apenas passarei meu expediente no planeta Terra sem a experiência de cantar o Hino Nacional de calção e chuteiras, como, a bem da verdade, jamais, nunca, em hipótese alguma poderia ser de fato um jogador de futebol.
Afinal, se não bastasse a falta de categoria, há a tendência a engordar (que já virou realidade há muito tempo), a predileção por um chopinho, a preguiça em fazer exercícios físicos, a idade avançada para se arriscar na vida de atleta…
Mas aí volto à partida que estou assistindo. E lá do banco de reservas vejo o técnico fazer mais uma substituição errada que vai prejudicar o time. Então desço novamente ao subconsciente para reformular a pergunta: e de treinador, será que ainda dá?
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