Quando estou em casa, gosto de ver a movimentação de estudantes que passam pelo meu portão sempre que toca o sinal do fim de aula das duas escolas aqui perto. Vendo a molecada voltar pra casa, brincando, se divertindo, tirando sarro um do outro, lembro de quando eu, meu irmão e nossos amigos também voltávamos a pé ou de bicicleta pra casa depois da escola.
Ríamos sem parar, até chegar em casa, sentar à mesa e começar o almoço. Depois era assistir ao Globo Esporte, descansar mais um pouco, fazer a tarefa de casa e só então receber o alvará da minha mãe pra brincar na rua.
Pois ontem fui cortar o cabelo justamente no horário da saída da escola. E enquanto caminhava com o jornal debaixo do braço em direção ao salão do Zezinho – é, aquele mesmo -, uma enxurrada de crianças vinha em minha direção. Uns acompanhados dos pais, contando o que haviam aprendido naquele dia. Outros em turma, fazendo o que a criançada melhor sabe fazer: zoar um do outro. E uns sozinhos, chutando qualquer pedra que estivesse no chão ou tentando se equilibrar caminhando pelo meio-fio.
Cheguei ao barbeiro e havia outros três caras na minha frente. Como o calor era grande, decidi esperar do lado de fora. Busquei a sombra de uma árvore ao lado da sorveteria vizinha ao barbeiro, onde aguardei a minha vez. E quando eu ia abrindo o jornal, chegou uma mãe com os dois filhos à sorveteria – o mais velho com uns 8 anos, o menor, com no máximo 6, os dois com o uniforme da escola e mochilas nas costas. Ela explicava ao mais novo que ele não podia tomar sorvete porque estava com a garganta inflamada, por isso só compraria pro irmão dele. Como toda mãe, foi carinhosa em ressaltar que assim que ele se curasse tomaria um baita de um sorvete, do sabor que ele quisesse.
O pequeno não se importou muito com a momentânea impossibilidade. Tanto que foi logo dizendo ao sorveteiro “Moço, meu irmão quer um sorvete de morango!” E a mãe mais uma vez mostrou sua parcela de carinho. “Não, filho. Quem vai escolher o sabor do sorvete é o teu irmão. Ele é que vai tomar, não você. Escolhe, filho!”, virou-se ao mais velho, que, mantendo a tradição dos primogênitos, era muito mais envergonhado do que o caçula.
O guri mais velho pediu sorvete de chocolate. O sorveteiro pôs a bola na casquinha e entregou ao menino. E o mais novo ficou olhando com uma cara de quem também queria, mas não podia. Diante da feição tristonha do irmão, o mais velho não teve dúvida. No que a mãe foi pagar o sorveteiro, virou-se pro caçula e ofereceu uma lambida. O gurizinho foi com tanta vontade que abocanhou quase metade do sorvete.
Ainda com sorvete escorrendo pelos cantos da boca, o caçula levou uma bronca da mãe por desobedecê-la. E o mais velho não ficou imune: “Você sabia que teu irmão está com a garganta inflamada, que não pode chupar sorvete. Por que você ofereceu?”, ralhou a mãe.
Foram embora os dois de cabeça baixa, sinal de que assimilaram muito bem a bronca da mãe. Mas de cabeça baixa mesmo um olhou para o outro com aquele sorrisinho maroto que só a cumplicidade entre irmãos pode proporcionar.
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