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Uma questão de gene
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Te cuida, macacada, porque a lei animal é mais severa!

Essa macaquice de pedir habeas corpus pra chimpazé tem causado mal-estar não só no mundo jurídico. Tudo por conta do advogado que representa Megh e Debby, as filhotes de chipanzé que, sem nenhum trocadilho, estão com a macaca.

Criadas a pão-de-ló, as bichinhas não querem nem saber de voltar pra aquele mundão inóspito das matas africanas. Por isso, deram uma de político malandro (estou em dúvida, isso é pleonasmo?) e lascaram na Justiça um habeas corpus pra continuar no aconchego do lar em um sítio em Ibiúna (SP).

Pra quem foi criado a leitinho achocolatado na mamadeira – e não me venha com marca barbante, tem que ser de Ovomaltine pra cima, estamos entendidos? – conforme me informa um conceituado periódico paulista, deixar essa mamata pra se pendurar em uma árvore lá pros rincões de Uganda pra comer frutos silvestres não é lá uma troca muito interessante mesmo. Se ao menos os ditos frutinhos fossem de plantações orgânicas, sem agrotóxicos e viessem em embalagem à vácuo, com prazo de validade ao fundo e o número do SAC pra ligar em caso de dúvida, ainda vá lá.

E antes que você aí esbraveje que esse negócio de tratar bicho como gente é um absurdo, peguemos o rumo dos fatos. Conforme muito bem argumentou o advogado das nossas amiguinhas símias (o cara é doutor, mermão!), os genes dos chimpanzés são 99,4% iguais aos dos seres humanos – aquela gostosa da sua vizinha incluída. E se nós temos direito a um habeas corpusinho matreiro pra sair da rotina de vez em quando, pela lógica, nossos amigos chimpanzés também. Ao menos enquanto pessoa humana de 99,4% – copyright do último termo em itálico a qualquer livro de auto-ajuda.

O problema é que esse negócio causou um reboliço no reino animal. Pois agora há uma nova luta de classes, que, inclusive, se mobiliza em sindicatos. A dos genes iguais, que querem porque querem os seus direitos garantidos por terem sangue nobre.

Os gatos vira-latas ou sem raça definida (a que nível chegou essa chatice do politicamente correto…) saíram na frente. Já impetraram seus agá-cês (os habeas corpus na intimidade) exigindo seu quinhão na herança do rei dos animais. Eles acreditam ter no mínino 80% de genes iguais aos dos leões. Logo, são da família real. Nada mais justo.

Por via das dúvidas, a Justiça determinou: o patrimônio mais valioso do reinado leonino, a juba, fica depositado em juízo até que se resolva a questiúncula.

Só sei que eu se fosse a Megh e a Debby me apegaria a um crucifixo com todas as forças e rezaria umas 50 novenas pra esse bendito habeas corpus sair logo de uma vez. Do contrário, o leão já mandou avisar: não vai sobrar nenhum genezinho das duas se pintarem lá pelas savanas africanas.

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