Crônica publicada originalmente no caderno Viver Bem, da Gazeta do Povo, no último domingo (16).
Antes de mais nada, não estranhe se esse texto acabar assim de repente, sem que você consiga lê-lo até o final. Mas é que depois que decidi largar o sedentarismo e tentar evitar morrer antes dos 40 encarando a tal da academia de musculação, a coisa realmente não está das mais fáceis. Cada tecla do computador parece pesar uma tonelada. E a cada movimento que faço, por mais banal que seja, todos meus músculos reclamam avidamente, a ponto de eu pensar que vou cair duro no chão.
Aliás, se não fossem essas tão doloridas fisgadas que me assolam neste exato momento, jamais me lembraria de que tenho tantos músculos. Tantos e tão bem espalhados, porque o único lugar que a dor não me incomoda é da sola do pé para baixo.
Na verdade, na verdade, também tem certa musculatura em especial onde sei que nunca hei de sentir dor. Mas não vem ao caso relatar essas peculiaridades tão peculiares da minha vida. É só pra enfatizar mesmo, antes que aquela rapaziada alcoviteira (aquela moçadinha de pensamentos mal-intencionados, manja?), comece a levantar hipóteses maliciosas da minha pessoa.
Voltando à morte da bezerra. Isso de fazer exercícios físicos não é moleza. Depois de anos treinando com afinco para me tornar o campeão do sedentarismo, ter de mudar de rotina é complicado. Fora a vergonha que a gente passa.
No segundo dia de academia, eu quase morrendo na esteira, já à procura de um desfibrilador que me socorresse, e uma senhora de idade, correndo numa velocidade umas dez vezes maior do que a minha, praticamente uma Usain Bolt da terceira idade, puxa papo comigo:
– Em que velocidade você está?
– Não sei, minha senhora, acho que na cinco, cinco e meio…
– Tá meio devagar, hein, mocinho. Mas vai de leve mesmo, no teu ritmo. Vou orar pra que você já, já chegue nesse ritmo que eu tô.
Confesso que me controlei para não mandar ela, a oração dela e, heresia maior, a esteira e toda a academia pros quintos dos infernos. Me vali da minha imaginação para visualizar que aquela corrida toda na esteira na verdade era pra eu ficar bem longe dela.
Mas o sangue subiu mesmo na hora de ir embora. Eu me arrastando, com uma dificuldade pra andar que jamais tive nem nos meus maiores porretes, enquanto ela subia desinibida numa bicicleta me dizendo toda sorridente: “Ainda vou pra hidroginástica.”
O mais difícil é saber que além de ser um fracote que perde na corrida pra uma senhora que poderia ser minha avó, vou ter que controlar a alimentação, acordar cedo, dar uma maneirada na bebida… Vamos ser bem sinceros, rapaziada, esse negócio de levar vida saudável é de deixar o sujeito doente.
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