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Crash de 1929
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Bolsa de Nova Iorque, 24 de outubro de 1929. O mercado está nervoso com a sucessão de quedas acumuladas desde o início de setembro. As ordens de venda se acumulam desde o começo do dia. Milhões de ações estão sem compradores. O índice Dow Jones recua 11%. Os grandes banqueiros da cidade se reúnem e formam um pool para comprar papéis e reduzir as perdas no fim do dia para 2%. O movimento é inútil. Na segunda-feira, 28, o Dow cai 13%. Na terça-feira, outros 12%.

O crash que prenunciou a pior crise econômica de todos os tempos completou 79 anos e serve como um ponto de comparação para se compreender melhor a crise atual. Como agora, o colapso da bolsa de Nova Iorque sinalizava o estouro de uma bolha. Investidores endividados até o pescoço foram contaminados por um vírus de otimismo que fez subir preços de ações e imóveis. Até inúteis terrenos pantanosos na Flórida encontravam compradores. Empresas investiam pesado em uma expansão que se baseava nesse mesmo otimismo. Em setembro de 1929 o mercado virou, a começar pela bolsa.

“Foi uma crise de confiança no sistema, como agora”, diz Renato Colistete, professor de história econômica da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). “Em pouco tempo a crise contaminou o consumo, a produção e o emprego. Os bancos não queriam mais emprestar dinheiro, apesar de o Fed [banco central dos Estados Unidos] ter baixado os juros.”

No início dos anos 30, o estouro da bolha se transformou em uma espiral deflacionária que varreu do mapa um terço do PIB norte-americano. O desemprego chegou a 25%, enquanto a produção industrial caiu pela metade. Seguidas corridas contra bancos tiraram do mercado 5 mil instituições bancárias até 1932.

Três anos após o crash, a situação ainda era desoladora a ponto de abrir espaço para uma revolução na condução da política econômica. Franklin Delano Roosevelt assumiu a presidência do país em 1933 com um plano, o New Deal, que propunha aumentar os gastos públicos para empregar a imensa quantidade de pessoas desocupadas. Funcionou, com um empurrão do esforço de guerra que teve início no fim dos anos 30.


Outras recessões e o comportamento da economia brasileira

“O comportamento dos bancos centrais na crise de hoje mostra que a lição dos anos 30 foi aprendida”, diz Colistete. “Há uma coordenação que não foi possível naquela época, e os governos sabem que precisam agir com muita força para não deixar que uma nova espiral recessiva comece.” Atualmente, sabe-se que manter o setor bancário funcionando é ponto-chave para lidar com crises sistêmicas. Além disso, os governos não hesitam mais em ampliar o déficit público.

Arquivo/AFP
Bolsa de Nova Iorque em 1929, 1987 e 2008: nas duas primeiras ocasiões o resultado dos crashes veio em forma de recessão.

Talvez a principal diferença entre 1929 e 2008 esteja no cenário internacional. A década de 20 foi marcada por rusgas herdadas da Primeira Guerra Mundial. O protecionismo comercial era estava em alta. O sistema monetário internacional, o padrão-ouro, era uma colcha esburacada, pois diversos países desvalorizavam suas moedas para tentar exportar mais. Quando estourou a crise nos EUA, não houve acordo internacional para lidar com a sangria nas finanças americanas, e o dólar teve de ser desvalorizado em 1933. Pelo menos no lado político, 2008 é menos crítico do que 1929.

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