Um repórter iraquiano chamou o presidente dos Estados Unidos George W. Bush de “cachorro” em árabe durante visita e dezembro e atirou seus sapatos em Bush, durante conferência de imprensa em Bagdá. Chamar alguém de “cão” é uma ofensa das mais graves, porque os cachorros são considerados impuros e até proibidos como mascote em alguns países.
Seguranças iraquianos e agentes do serviço secreto dos Estados Unidos tomaram o homem e o levaram da sala onde Bush estava dando uma conferência com o primeiro ministro iraquiano Nuri al-Maliki.
Os sapatos passaram a cerca de 4,5 metros de seu alvo. Um deles passou sobre a cabeça de Bush, que estava em pé perto de Maliki, e se chocou contra a parede atrás deles. Bush sorriu de forma desconfortável e Maliki pareceu tenso.
“Isso não me incomoda,” disse Bush, pedindo calma a todos os presentes à medida em que uma desordem tomava conta da sala de conferência.
Quando questionado sobre o incidente logo depois, Bush abrandou o ocorrido. “Eu não me senti nem um pouco ameaçado por ele. Só tenho a dizer que era um número 42”, brincou. Bush disse ainda que foi apenas uma forma de chamar a atenção.
Outros jornalistas iraquianos se desculparam pelo feito do colega, um jornalista televisivo.
Bush chegou a Bagdá, em 14 de dezembro do ano passado, para uma visita de cortesia antes de deixar o cargo de presidente em janeiro. A invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003 para tirar Saddam Hussein do poder desencadearam anos de sectário derramamento de sangue e insurgências no Iraque, matando dezenas de milhares.
No dia seguinte, em Bagdá, manifestações contra os Estados Unidos e contra Israel ganharam novos slogans, pela libertação do jornalista. O pedido também foi feito pela direção da emissora onde ele trabalha.
Muntadar Al-Zaidi, de 20 anos, foi preso e foi submetido a testes para detectar o uso de álcool ou drogas. As autoridades iraquianas tentam descobrir se ele agiu espontaneamente ou por encomenda de alguma organização.
“Sapatada premeditada”
Descrito como um ‘patriota’ que odeia os Estados Unidos, os colegas de trabalho do iraquiano disseram que ele agiu sozinho e que teria premeditado seu ataque a Bush.
“Ele nos preveniu faz meses, faz pelo menos sete meses, que lançaria os sapatos contra Bush se tivesse chance de estar em frente a ele”, disse um de seus colegas. “Quando ele nos prometeu isso, pensamos que eram só palavras.”
Natural da cidade xiita de Nassiriyah, 350 km ao sul de Bagdá, A-Zaidi mora com os irmãos no centro de Bagdá. Em novembro de 2007 foi sequestrado na capital iraquiana e permaneceu uma semana em cativeiro.
Julgamento adiado
O julgamento do repórter iraquiano foi adiado por causa de uma apelação sobre se o incidente corresponde a agressão, informou Dhiaa al-Saadi, advogado do jornalista, no dia 31 de dezembro.
O repórter de TV Muntazer al-Zaidi é acusado de agressão contra um chefe de Estado estrangeiro, passível de pena de 15 anos de prisão.
A defesa, segundo o advogado, apelou para reduzir a acusação para insulto a um chefe de Estado em visita, o que levaria a uma pena máxima de 2 anos, porque a ação não teria colocado Bush em perigo. “Você já ouviu alguém ter sido morto por um sapato?”, disse Al-Saadi. “Na Europa, eles jogam ovos e tomates podres para insultar. No Iraque, jogar o sapato é um símbolo de desrespeito.”
O porta-voz do Alto Conselho Judicial iraquiano Abdual Satar Birqadr disse que o pedido de apelação de Zaidi seria examinado, resultando no adiamento do julgamento.
Dois irmãos que visitaram Zaidi na prisão, localizada na Zona Verde em Bagdá, disseram que ele apresenta sinais de ter sido agredido, como a perda de um dente e escoriações nos braços e pernas.