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O repórter Breno Baldrati da Gazeta do Povo viajou, no final de outubro do ano passado aos EUA, encarregado de cobrir a 44.ª eleição presidencial norte-americana, que apontou como vitorioso o senador democrata por Illinois Barack Obama – o primeiro negro eleito presidente do país. Enquanto, a repórter Helena Carnieri e o editor Célio Martins, deram o suporte necessário aqui da redação e puderam ver a repercussão nacional na semana eleitoral norte-americana. Nos três primeiros dias, as reportagens foram feitas de Columbus, no estado decisivo de Ohio. E, posteriormente, em Chicago – berço-político do senador democrata Barack Obama. Veja alguns relatos direto da Terra do Tio Sam:

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1) No Grant Park, em Chicago, onde 250 mil pessoas se reuniram para ouvir o discurso da vitória de Obama, a atmosfera estava tomada por uma felicidade generalizada. Fugaz, ilusória, quem sabe, mas boa. Quando Wolf Blitzer, apresentador da CNN, anunciou a tão aguardada notícia – “Barack Obama is the next president of the USA” –, a multidão simplesmente foi à loucura. Foi, não minto, de arrepiar. Quando precisam mandar uma mensagem de união e patriotismo, não há quem bata os americanos. Após a confirmação da vitória, veio o belo discurso de McCain, transmitido pelos telões do parque. E houve aplausos. Alguns até gritavam o seu nome. Vaias só quando Sarah Palin foi mencionada. Pouco depois, Obama tomou o palco. Na multidão, de repente, se fez o silêncio. Apenas olhos e câmeras registrando seu discurso. Aquela sensação de que a história está passando, ali, bem na nossa frente. Naquela noite, fazia 17 graus Celsius em Chicago, uma temperatura absolutamente anormal para o mês de novembro. Pudera… não foi uma noite qualquer.

Discursos distintos:

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2) Ralph Nader, o candidato independente que em outros tempos ainda recebia votos, teve nestas eleições um desempenho sofrível. Fosse só isso, tudo bem. Mas foi dele um dos comentários mais lamentáveis sobre a vitória de Obama. Em entrevista, disse que o presidente eleito deve decidir se será o “Tio Sam para o povo americano ou o Tio Tom para as grandes corporações”. Aqui, Tio Tom (Uncle Tom) é um termo pejorativo, que significa um negro subserviente ao domínio do branco.

O rapper Jay-Z, por outro lado, falou bonito: “Rosa Parks (costureira negra que, em 1955, recusou-se a dar lugar no ônibus a um branco) sentou para que Martin Luther King pudesse andar. Martin Luther King andou para que Obama pudesse correr (run, em inglês, também pode significar concorrer). Obama corre para que todos nós possamos voar.”

Jornalista relata o clima em Chicago:

3) Chicago está pronta para comemorar a vitória de Barack Obama como o novo presidente negro dos Estados Unidos.

O prefeito da cidade, Richard Daley, chegou a anunciar que 1 milhão de pessoas devem comparecer esta noite no Grant Park, no centro de Chicago, onde Obama vai fazer seu discurso sobre o resultado da eleição. Como sempre a tudo que é relacionado a Obama, a segurança deverá ser pesada. Além do serviço secreto, que fará inspeções aleatórias, todos os policiais de Chicago estarão nas ruas – as folgas para foram canceladas.

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O Corpo de Bombeiros também anunciou que todos os seus membros levarão o material de trabalho para casa, no caso de alguma emergência.

O sistema público de transporte também ampliou os serviços para a noite especial. Algumas empresas irão liberar os funcionários às 15h.

Sistema eleitoral americano em comparação com o brasileiro:

4) O sistema eleitoral pode até ser anacrônico, algo que fazia sentido quando foi implementado, no fim do século 18, mas as eleições americanas não escapam do clichê de “festa da democracia”. Nesse quesito, eles têm pelo menos dois grandes avanços em relação ao voto no Brasil.

Primeiro, o voto facultativo. Aqui, vota quem quer. Se o voto é um direito, então cabe ao cidadão escolher se quer ou não exercer esse direito. No Brasil, o voto ainda é um dever.

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O segundo foi uma inovação que ocorreu de forma mais significativa apenas nestas eleições: o voto antecipado. Em vez de fixar uma única data para a votação, 30 dos 50 estados americanos decidiram ampliar o número de dias em que se pode votar e, assim, deram mais uma opção ao eleitor que quer participar do processo.

O argumento no Brasil contra o voto facultativo é que o país possui uma democracia que não é plenamente madura. Assim, o voto obrigatório é necessário para conferir legitimidade aos eleitos. Faz algum sentido, certamente, mas é bom não perder de vista o modelo norte-americano.

Se não bastasse o pequeno empresário e sensação da mídia americana Samuel Wurzelbacher, que ganhou o apelido de “Joe, o encanador”, Breno encontrou “Jean, a encanadora”, que fez campanha para o republicano John McCain.

Em plena Michigan Avenue, a rua mais famosa de Chicago, a tecnóloga Jean McLean segura um cartaz de John McCain e grita, a plenos pulmões: “Não vamos deixar que o governo leve nosso dinheiro. Faça como eu, saia do armário para a chapa McCain-Palin.” Sair do armário? Ela explica o uso da expressão: “As pessoas estão com medo de fazer campanha para McCain e serem taxadas de racistas. É um absurdo.” Jean faz parte de uma organização de mulheres que apóiam a candidatura de Sarah Palin para vice-presidente. Chicago, porém, é o berço-político de Obama e território majoritariamente democrata. Sempre foi nas últimas eleições, e neste ano é ainda mais. Volta e meia, então, Jean recebe um “cala a boca” de um transeunte. O que deve explicar sua reação quando, ainda que discretamente, alguém lhe mostra o polegar: a mulher explode em alegria. “Você, senhor, de camiseta branca, muito obrigada! Eu sou Jean, a encanadora, não deixe que o governo leve seu dinheiro.”

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