Uma das ultimas publicações da Rádio Liga Curitibana gerou um debate, não só dentro do portal, mas também nas redes sociais. Link. Ok! Um pequeno debate! E na verdade o que mais importa é o que estamos discutindo e não quantos estão nesta conversa. Resta saber se, estamos com o mesmo objetivo. No texto, Rodrigo F. do Amaral levanta algumas questões sobre a produção, o oficio da arte, e uma reflexão sobre o processo de venda e divulgação dos trabalhos em arte.
Ângelo Esmanhotto abre a conversa refletindo sobre a educação: “Num disco físico esta o registro de um trabalho. Este trabalho musical pode ser guardado também em partituras, o que é a meu ver muito mais duradouro (tenho tocado música escrita no século XIV). Num passado não muito distante as pessoas compravam partituras para tocar em casa, quando ainda não havia sido inventado o processo de gravação de áudio. A família reunida em volta do piano eram os consumidores/ouvintes de música. Aqui cabe dizer que deveríamos saber tocar algum instrumento.”
Comenta ainda, sobre a difusão musical, antes mesmo da invenção da vitrola, ou, dos mais antigos, como o dispositivo de gravação e reprodução sonora mecânico, fonógrafo de cilindro, inventado por Thomas Edison em 1877. Esmanhotto diz: “Como o mercado de venda de partituras era bom. Quer dizer a única forma de se ter música dentro de casa, sem ter que pagar um músico para executa-la. Produtores/editores fizeram o seguinte, contratavam músicos para fazerem arranjos mais simples de temas de sinfonias ou separavam temas de sonatas e/ou suítes de forma que qualquer pessoa pudesse tocar a música do seu gosto. Exemplo: aquela música do caminhão de gás. Ouvir música ao vivo fora de casa era muito raro. Hoje não.”
E termina refletindo, mais um pouco, sobre os consumidores de música: ” Lembro que eu andava com o disco do Black Sabbath debaixo do braço, era meu jeito de dizer que fazia parte de um determinado público. O disco físico não era só música representava também o meu discurso “sócio-político-cultural”, que na real era promulgado por pessoas distantes, artistas que viviam uma realidade diferente da minha, eu é que insistia em possuir os mesmos valores. Não sei por quê?? Um discurso importado pela mídia? Aqui entra o eu ouvinte.”
Dabliu Júnior, compositor e economista, abre outro debate sobre os processos de industrialização e comercialização. Sobre o funcionamento de mercado, popularizado pelo francês Jean-Baptiste Say e, logo depois contesta a teoria com outro economista: “Rodrigo Ferreira Do Amaral, adorei a reflexão. E a partir dela, acho que posso contribuir um pouco com mais ideias pra que possamos pensar juntos. Primeiro, faz sentido a incorporação da lei econômica “a oferta cria sua demanda”, que os economistas chamam de Lei de Say, e é o pensamento que atualmente tem sido incorporado pelos meios de produção da música. No entanto, na história econômica já tivemos provas que a Lei de Say está errada, a partir da crise de 1929, quando o mundo teve seus estoques abarrotados, principalmente os EUA que viviam algo que podemos traçar um paralelo com o que vemos hoje: uma aparente “crise” acontecendo, as prateleiras cheias, as pessoas desempregadas, e o governo com o que era a lei macroeconômica da época: nada se deve fazer porque o mercado se auto regulará (liberais). No entanto, em 1938 surgiu uma obra que revolucionou a economia, a “Teoria Geral” de Keynes, que mostrou que não era a oferta que mandava na economia no curto prazo e sim a demanda! Eis o erro que fez o mundo e principalmente os EUA ficarem estagnados por quase 10 anos!! E agora isso se repete. Se temos um problema de demanda, ou podemos esperar a euforia passar, ou fazer como os velhos amantes do vinil têm feito, e mostrar o maravilhoso mundo dos discos físicos: o ato da compra, os encartes, saber quem fez o que, isso tudo é mágico. No entanto, isso, que parece uma reflexão otimista, pode esbarrar em outra variável: será que as pessoas em geral, o público médio, busca esse tipo de satisfação musical? Será que ele acha que o legal da música é essa imersão na obra de arte que é um disco, e absorve-lo nos mínimos detalhes? Ou será que o mp3 só trouxe à tona a mediocrização na hora de ouvir música, consumir música por osmose e sem qualquer apreço especial? Voltemos à reflexão…”.
Rodrigo: Não se limitar a teoria e aplicar um modelo de processo para construção de uma marca ou produto (musical e artístico). Partindo do pressuposto que, precisa-se de consumidores (público) e que se deve construí-los. As duas argumentações filosóficas baseadas na história, tanto do Esmanhoto quanto a do Dabliu Junior, abrem algumas questões fundamentais: Educação em primeiro lugar, dever do Estado, defendido por Ângelo. E a do Dabliu que levanta sobre o consumidor atual que, hoje, espera as coisas caírem em seu colo. O que poderia defini-lo como medíocre. Um consumidor que não questiona e nem reflete sobre o que consome em arte. Vai pela moda! A massificação da música!
Devemos lembrar, aqui também, que a arte está em movimento. Será que não somos nós que ditamos a regra sobre a produção em arte? Será que estamos iconizando verdadeiramente e, com um conteúdo forte e embasado? Será que a massa não prefere a facilidade, em vez de usar o cérebro? Os artistas caíram no abismo emocional e financeiro para “sobreviver” de arte?
Segue mais algumas problemáticas e acreditamos que devem ser respondidas, pois queremos o mesmo denominador comum!
Confira o trabalho do Ângelo Esmanhotto:
E do Dabliu Júnior: Aqui
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