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Após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral, surgiram debates antecipados sobre quem liderará o campo de centro-direita nas eleições de 2026. Nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo), Eduardo Bolsonaro (PSDB), Flávio e Michelle Bolsonaro (ambos do PL), movimentaram as casas de apostas após os eventos da semana passada.
A orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro para seu partido votar contra a Reforma Tributária não obteve sucesso. Essa articulação expôs vários erros de Bolsonaro. Em primeiro lugar, ele não se esforçou para liderar a oposição em outros eventos importantes desde a derrota nas eleições de outubro. Ou seja, ele não precisava ter se envolvido nessa disputa e na política saber escolher quais batalhas travar é tão importante quanto vencê-las (até porque, há vitórias mesmo em derrotas se o ator souber jogar bem). Em segundo lugar, Bolsonaro começou a se movimentar tarde, entrando em contato com deputados federais apenas na terça-feira, dois dias antes da votação, e de maneira desorganizada. E em terceiro lugar, Bolsonaro fez uma aposta arriscada e perdeu.
Esse evento também revela a força do texto da PEC 45/2019, cujo principal defensor foi o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL). E como isso se relaciona com a sucessão de Bolsonaro? O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pela primeira vez, assumiu uma posição contrária à de seu principal padrinho político, e venceu.
Tarcísio saiu fortalecido desse embate. Ele reforçou a narrativa de ser um técnico que prioriza as agendas de interesse nacional em vez da política. Demonstrou habilidade de articulação ao conseguir modificar o relatório de Aguinaldo Ribeiro (PP/PB) de forma a favorecer o Estado de São Paulo, que ganha influência no Conselho de entes federativos.
Críticas à atuação de Tarcísio, vindas da base bolsonarista, foram mensuradas por uma pesquisa da Quaest, que analisou menções nas redes sociais a alguns dos principais políticos envolvidos na aprovação da reforma tributária. A maioria dos comentários sobre Fernando Haddad (PT), Arthur Lira e o presidente Lula (PT) foi positiva, enquanto os sobre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL) foram negativos.
No entanto, as críticas a Bolsonaro representaram 71% das opiniões, com 29% de comentários positivos. Já a avaliação de Tarcísio foi dividida, com 51% de comentários negativos e 49% positivos. Esses resultados podem ser interpretados considerando o fato de que a maioria dos brasileiros ser a favor da reforma tributária (54% ante a 29%), conforme apontado também pela AtlasIntel na semana passada. Além disso, ressalta a capacidade de mobilização digital do bolsonarismo quando direcionada a um ator específico, bem como a sua agressividade.
O levantamento da atlas também apontou que, a maioria dos entrevistados sugere o governador de São Paulo (60%) como o melhor sucessor na centro-direita, seguido por Michele Bolsonaro (PL), com 17,9%, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), com 8,6%.
Outra evidência é uma pesquisa inédita da forma de Tarcísio é trazida por pesquisa conduzida pelo Ranking dos Políticos sobre a visão dos parlamentares em relação aos nomes com maior capacidade e possibilidade de liderar a centro-direita. O governador de São Paulo foi citado por 51% dos deputados federais como o nome com maiores chances, seguido por Eduardo Leite (13,7%), Zema (12,7%) e Michelle (9,8%). Ele também foi o preferido entre os senadores, com 30%, seguido por Leite (25%), Zema (15%) e Michelle (15%).
Embora Tarcísio, orientado por seu Secretário da Casa Civil, Gilberto Kassab (PSD), esteja sinalizando a interlocutores que pretende disputar a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes, seu pragmatismo demonstrado tende a ser bem recebido pela opinião pública, podendo até abrir caminho para ambições maiores. Até 2026, haverá muitas batalhas nessa disputa, mas, ao contrário de Bolsonaro, Tarcísio soube na semana passada escolher sua batalha, saiu vitorioso e fortalecido.
Luan Sperandio é graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo e MBA na Fucape Business School.Analista político, Conselheiro e Coordenador de Operações da Ranking dos Políticos, foi Diretor do Instituto Livre Mercado, que atua em Brasília. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017. É ainda colunista de Folha Business e associado do Instituto Líderes do Amanhã.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima