Nem sempre é fácil identificar quando alguém trabalha muito por necessidade, por fuga ou porque é um apaixonado pelo que faz.
Trabalhar mais de 12 horas por dia ou passar o final de semana debruçado sobre um trabalho pode sim dar prazer e satisfação a uma pessoa e torná-la mais feliz.
Essa pessoa é um worklover (pessoa que ama o trabalho). A tese é defendida pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB – Universidade de Brasília – e é fruto de anos de pesquisas das relações entre o trabalho e o prazer. Na verdade a idéia é modificar a crença de que toda pessoa que trabalha demais é um workaholic (pessoa viciada em trabalho) que acaba afetando de modo negativo todos os outros aspectos da sua vida.
De acordo com o pesquisador, professor Wanderley Codo, o workaholic encontra no trabalho uma maneira de fugir da vida, de não enfrentá-la. Em geral, esse indivíduo de alguma forma não encontra satisfação ou prazer em sua vida sexual, afetiva e familiar. Tem poucos amigos ou dificuldades de se relacionar e, ao invés de enfrentar os problemas prefere se “jogar de cabeça” no trabalho onde não encontra tais dificuldades. Já o worklover não, ele pode passar muito tempo dedicado ao trabalho sem esquecer da sua vida e das pessoas que com ele convivem. Essa pessoa muitas vezes não consegue separar o prazer ou lazer do que é trabalho. Trabalhar para ele é uma diversão.
Segundo o pesquisador o worklover tem ótimas relações fora do ambiente do trabalho. A sua satisfação e realização profissional o ajuda em todas as outras relações sociais e, inclusive, sobre a saúde mental. O indivíduo apaixonado pelo que faz fala com alegria contagiante sobre o trabalho que desenvolve.
Especialistas das áreas da psicologia e psiquiatria concluíram que o vício em trabalho é idêntico ao vício em cocaína ou álcool, onde a mola-mestra é a compulsão. Para o workaholic o trabalho é o pano de fundo da sua vida. Ele torna-se obsessivo pelo trabalho. Ele gosta de competir, busca poder e status e a realização profissional.
Poucos se dão conta de que a sociedade desaprova drogados e bêbados, mas aprova e até aplaude quem trabalha demais.
O workaholic canaliza a maior parte da sua energia no trabalho, sacrificando o lazer e as relações pessoais. Em geral ele racionaliza demais, esquece dos próprios sentimentos e tem um contato mínimo com as suas necessidades básicas e com os seus conflitos. Quase sempre só presta atenção em si mesmo, tornando-se egoísta e individualista.
Sandra, 37 anos, divorciada, percebeu que quando o ex-marido começou a apresentar disfunção erétil passou a trabalhar até tarde da noite. Por várias vezes ela sugeriu que ele buscasse ajuda médica, mas ele fugia do assunto. Trabalhando mais, em pouco tempo, passou a ganhar dez vezes mais. A qualquer tipo de cobrança justificava que o padrão de vida melhorou consideravelmente e que dinheiro não era mais problema. Em compensação ele não via o filho crescer e, quando chegava em casa, tarde da noite, deitava em silêncio para não precisar comparecer sexualmente. Todavia, mesmo após concordar em buscar ajuda médica e minimizar os problemas sexuais Renato tornou-se um workaholic amargo, infeliz que explodia por pouca coisa e demonstrava claramente que não sentia prazer em estar com a família. Relutou, mas acabou concordando com a separação.
Workaholic
– É viciado em trabalho.
– É motivado por natureza, mas não necessariamente está satisfeito com o trabalho.
– Se a vida profissional não anda bem, sofre e descuida da saúde.
– Trabalha muitas horas por dia e abandona a vida pessoal. Piora a situação porque
foge dos problemas privados permanecendo mais tempo na empresa.
– Se está sobrecarregado não encontra maneiras de priorizar tarefas e abrir espaço
na agenda para a vida pessoal.
– Apresenta mais stress e tem mais chances de sofrer doenças cardiovasculares.
Worklover
– É apaixonado pelo trabalho.
– Em geral está satisfeito com o trabalho e sabe lidar melhor com as dificuldades.
– Se o trabalho vai mal, busca ajuda e soluções para os problemas.
– Trabalha muitas horas por dia sem abandonar a vida pessoal.
– Se está sobrecarregado encontra como priorizar tarefas e abrir espaço na agenda para a vida pessoal.
– Sofre menos de stress, garantindo saúde mental e física por mais tempo.
Se você anda trabalhando demais, sugiro que faça uma pausa para uma séria autoanálise:
1) Trabalho muito porque preciso ou estou fugindo de algum conflito?
2) Como tenho me relacionado com os meus amigos e familiares?
3) Consigo conciliar minha vida amorosa, sexual e profissional?
4) Nos finais de semana saio para me distrair ou só me encontro com pessoas para falar de projetos?
5) O trabalho para mim é tudo na vida?
6) Tenho me preocupado com qualidade de vida?
7) Costumo cuidar da minha saúde física e mental?
8) A minha relação com os colegas de trabalho é boa? Incentivo, auxilio e aplaudo o bom desempenho deles?
9) Costumo ficar chateado quando são mais criativos e suas idéias são melhores do que as minhas?
10) Trabalho muito porque necessito constantemente de aplausos e reconhecimento?
11) Minhas prioridades sempre dizem respeito ao trabalho?
12) Consigo tirar 20 dias de férias sem pensar a maior parte do tempo nas questões profissionais?
13) Trazer trabalho para casa tornou-se um hábito ou é uma necessidade?
14) Centralizo tudo porque não sei delegar?
15) Fico desorientado quando não consigo dar conta de todos os afazeres?
16) Só consigo me relacionar com pessoas que também são workaholic?
17) As pessoas a minha volta não param de reclamar porque vivo ausente?
18) Já perdi alguém especial por causa do trabalho?
O trabalho deve ser ótimo, gratificante e enriquecedor. Mas, não pode ser o centro da sua vida. Se isto estiver acontecendo, pare e avalie. Talvez seja o momento para estruturar melhor, repensar a carreira ou buscar uma ajuda profissional, para colocar as coisas nos devidos lugares.