Depois de perder dois filhos e o marido, ela se reapaixonou pela vida
A história de vida de Janete (49 anos) pode até ser semelhante a tantas outras, mas é mais um dos exemplos de força de vontade para lutar e superar as adversidades da vida.
Aos 21 casou com um colega do curso de arquitetura, e logo foi mãe de um casal de gêmeos. O casal vivia uma linda história de amor e familiar. Muitos sonhos se concretizando: um lindo apartamento na praia, viagens nacionais, internacionais e, ver os filhos optar por cursar arquitetura foi um momento muito especial para a família.
Dois meses após os filhos ingressarem na universidade ela passou a se sentir mal e o diagnóstico foi leucemia. O destino parecia já estar traçado. Joel, seu irmão mais velho, doou a medula e em pouco tempo a família comemorava a cura. Há alguns anos os irmãos não se falavam e a generosidade de Joel foi o ponto de partida para a reconciliação.
Mas, em maio de 2005 o destino foi implacável. O marido e os filhos – apaixonados por pesca submarina – resolveram passar o final de semana na praia. Janete decidiu ficar na cidade para terminar um projeto. No domingo, no início da noite um telefonema a fez desabar. Um acidente na rodovia vitimou sua família. “O mundo parecia desmoronar, porém a coragem para enfrentar a situação, foi mais forte”, relembra.
“Meu coração foi tomado por dor, tristeza, lembranças e saudade. Não conseguia encontrar forças para trabalhar, sair de casa e olhar pela janela. Por que a vida tem sido tão injusta comigo?”, esbravejava. Já estava a um passo da depressão quando meu irmão me levou na “marra” para um consultório psicológico. “Na verdade, me deixei levar, precisava desse empurrão.
Incentivada pela família e pacientemente orientada pela terapeuta comecei a reagir. As lembranças machucavam minha alma e eu dava um passo à frente e recuava dois. Até que um dia minha terapeuta foi dura comigo.
– Você precisa refazer a sua vida, inclusive, amorosa, você é jovem ainda. Olha pra frente! Que tal procurar uma agência de relacionamentos?
Confesso que sai da consulta decepcionada. Tirar do meu peito as lembranças e o sofrimento e colocar outra pessoa neste lugar?
Meus irmãos e minha mãe aplaudiram a idéia e, dia após dia cobravam uma atitude de minha parte.
Numa determinada manhã de primavera, acordei disposta a dar um novo rumo à minha vida. Decidi abrir meu coração e efetuei meu cadastro na agência indicada pela terapeuta. Minha única exigência: ele deveria ser de outra cidade, estado, país ou planeta. Estava disposta a recomeçar em outro lugar.
Recusei alguns perfis. Faltava coragem para prosseguir, eu não conseguia dar um “start”. Depois de oito meses decidi dar uma oportunidade para conhecer o Osvaldo de Brasília – 59 anos, viúvo, sem filhos, advogado.
De imediato nossas histórias de vida pareciam se cruzar. Duas pessoas sofridas, dispostas a fugir das armadilhas da vida – vícios, noitadas – solidão e da depressão. Encontramos outros pontos em comum e apostamos na nossa fé inabalável de que a vida não é só sofrimento.
Se reapaixonar pela vida parecia uma proposta razoável, mas distante… Mas, quem sabe a dois poderia ser mais fácil, concluímos. Decidimos tentar, enfim, voltar a viver… Algum tempo depois passei a viver em Brasília. A adaptação teria sido difícil se não fosse a paciência, o apoio e o carinho de Osvaldo e o afeto de sua família.
Hoje casados vivemos um dia de cada vez. Algumas mudanças foram essenciais para a adaptação. Não existe rotina, nossa vida social é intensa, temos um bom círculo de amigos que viajam conosco. Estamos sempre em busca de novidades para estimular e manter acesa a chama do amor. Procuramos sempre nos enriquecer espiritualmente. Sabemos que o nosso encontro foi apenas o ponto de partida para uma nova caminhada na nossa vida. Aprendemos também que demonstrar o amor é uma forma de deixar a vida transbordar dentro do próprio coração. O outro não tem bola de cristal. Todo dia é dia de declarar o seu amor. Não é preciso esperar uma data especial. Nossas histórias servem como exemplo de que este dia pode não chegar… Nossos queridos sabem que foram muito amados e que habitam em nossos corações.
Resolvemos contar a nossa história para mostrar que dá para superar tristezas e construir uma nova vida. Nossas perdas foram inevitáveis. Eu poderia ter ficado parada e mergulhada em lamentações. Ele também. Nunca é tarde para recomeçar, renascer das cinzas. Não importa a idade. É preciso querer e, não ter medo de se reapaixonar pela vida e dar uma nova chance ao coração”, finaliza.
Recomeçar é, literalmente, começar de novo. Para isso é preciso renascer, reinventar-se. Uma nova vida pressupõe largar velhos hábitos, mágoas, crenças e medos. Mais do que palavras e boas intenções, o importante é agir e afinar o passo com o coração.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão. – Encerrando ciclos – Fernando Pessoa.
A vida é bela, mas tem obstáculos imprevisíveis. As perdas são sempre dolorosas. As minhas são diferentes das suas. Um emprego, um amor, um ente querido, o fim de um casamento. Janete e Osvaldo nos mostram um exemplo de superação. Confesso que estou muito feliz por tê-los apresentado, por fazer parte da história deles. E, também, por poder compartilhá-la com você, caro leitor!