“Não consigo me lembrar de uma época em que eu não estava “de quatro” por alguém. Minha primeira paixão, aos 8 anos, foi pelo meu professor de educação física. Certo dia rabisquei” EU AMO O LUCAS” na parede do meu quarto e levei a maior surra por causa disso.
Na sexta série eu amava Jack. Ele era metido a machão, encrenqueiro e não levava desaforo para casa. Tocava guitarra, vivia de bermudas e boné e beliscava as meninas na minha frente. Ele piscava para mim e jogava beijinhos e jamais me beliscou. Nas entrelinhas sinalizava estar interessado. Nunca passou disso. Ah! Como eu o amava…
Já me apaixonei tantas vezes que é difícil me lembrar de todas. De jogadores de futebol até por membros dos Bee Gees, ah e o Paul dos Beatles como eu o desejava. Minhas paixonites foram de apenas um vago interesse até a mais completa insensatez.
Paixões podem virar a sua vida de pernas para o ar. Por causa delas aprendi a tocar guitarra, cursei francês, usei muito “laquê” no cabelo em penteados que mais parecia uma caixa de abelhas, comprei muita lingerie e desde muito cedo pintava as unhas com cores fortes. Eu viva em constante fase de delírio febril seguida por um longo período de recuperação quando a excitação e sedução da paixonite se transformavam em desilusão.
Até mesmo a ciência é de pouca serventia na hora de combater essa maluquice. Nós humanos somos biologicamente estruturados para ser viciados no amor. A paixão é na verdade um coquetel de hormônios liberados por algo tão simples quanto um olhar. Sim, um olhar foi o suficiente para me deixar completamente boba diante de um belo moreno que era segurança de um político famoso. Quanto mais boba você estiver, mais interessante o dito cujo vai parecer. Quando você pensa que entendeu as forças atuantes, alguma coisa acontece para acabar com todas as suas teorias. Bastou ele abrir a boca para o encanto desaparecer.
O que me leva à última e talvez maior paixão da minha vida. Eu conhecia os horários dele. Então passava em frente a sua casa pelo menos duas vezes por dia. Quando ele voltava da escola passava em frente ao meu portão. Lá estava eu, bem penteada, linda de morrer e com um belo sorriso. À medida que ele vinha chegando perto eu tinha a sensação de que ia desmaiar, minhas pernas tremiam e meu coração disparava, tudo por causa da possibilidade de vê-lo passar.
O ritual durou dois anos. Fiquei boba, fiquei louca, fiquei completamente fora de mim. Quase enlouqueci minha família. Já não aguentavam mais ouvir: ”Você acha que ele gosta de mim?” – “Ele não gosta de mim”, “Ele gosta de mim.”
Se você está pensando que é uma atitude infantil, está certo, é bem isso que as paixões fazem: reduzem-nos a idiotas completos.
O que aconteceu com essa última grande paixão, você quer saber?
Casei-me com ele há mais de 30 anos.
Paixonite aguda pega? É hereditária?
Minha filha mais nova está perdidamente apaixonada”.
Luara, 45 anos.
A paixonite pode ocorrer em qualquer momento da nossa vida, desde a infância até a terceira idade – embora aconteça com mais frequência entre os jovens – ela pode atacar a qualquer hora e em qualquer lugar. A paixonite é como um coquetel que mistura ingredientes para produzir uma emoção intensa e poderosa. Arrebatamento físico, explosão bioquímica que pode causar raiva, medo, tristeza, prazer e uma forte vontade de juntar-se a alguém. Paixonites começam rapidamente e terminam abruptamente. A pessoa se sente flutuando, fora da realidade. A paixonite envolve fantasias e projeções – o outro é idealizado – os desejos não são realistas. Ela pode acabar quando a imagem idealizada dá lugar a realidade – quando a interação real acontece.
Viciados em paixão
Com a proximidade do objeto do desejo a intensidade da paixonite pode diminuir ou ate desaparecer. Nesta fase ou a pessoa recua por medo da perda e da separação ou avança para um estágio menos intenso e mais íntimo que caracteriza o amor romântico. Os viciados em paixão em geral são pessoas dependentes, inseguras, carentes e tem baixa autoestima. Os seus relacionamentos vivem desmoronando porque são construídos baseados na fantasia. A realidade é dura demais para ser encarada. O medo de ser abandonado, rejeitado, mal amado e a descoberta de que a o objeto da paixão é de carne e osso pode transformar a paixonite em raiva. Sim, a pessoa deixou de corresponder às suas expectativas. Então é mais fácil pular para outro relacionamento, e para outro, e para outro tal qual o lendário Dom Juan.
Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu uma paixonite aguda por um professor, pela vizinha, estrelas de cinema, cantor (a), jogador de futebol, celebridades da TV e pessoas famosas. O amor viciante lota os cinemas, os teatros e leva milhões de pessoas à frente da TV para acompanhar as tramas das novelas. No entanto, muita gente consegue separar bem uma paixonite de um amor maduro e duradouro que busca ou encontrou em seus parceiros. A paixão evolui para uma fase menos arrebatadora, para um amor baseado na amizade, no companheirismo, ou seja, o casal se conecta no nível físico, espiritual e emocional.
Michael Liebowitz, do Instituto de Psiquiatria do Estado de Nova York, estudou a química cerebral dos amantes. Sua pesquisa explica a curta vida provocada pela paixonite. De acordo com esses estudos, a paixonite produz certos bioquímicos que atuam como anfetaminas naturais. Eles inundam a base das nossas emoções, que se localiza no sistema límbico, e faz com que nos sintamos relaxados e otimistas, risonhos e eufóricos. A mesma substância pode ser encontrada no chocolate. É por isso que buscamos a “doce paixão”.