A barbárie em nome de Deus!

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Um conflito com bases tão complexas como o argumento da existência de Deus.

O que houve hoje na Turquia, onde pessoas foram massacradas em um atentado em Istambul próximo à esplanada das mesquitas, local de grande circulação de turistas, pode também ser analisado sob a perspectiva da necessidade humana de impor a sua própria visão de um Deus, que embora pregue a solideriedade e compaixão, tem que ser soberano a qualquer preço.

Em grande medida nos atentados terroristas há uma base política, de luta pelo poder, mas fundamentalmente esta patologia encontra respaldo em uma necessidade humana pela busca por soberania de seu próprio discurso, onde a visão de mundo de cada grupo, que tem sua coesão em um sentimento de pertencimento de cada um compartilha a mesma visão de mundo, está baseada no encontro da ideia comum sobre a existência de um mesmo, único e soberano Deus!

O terrorismo internacional tem muito de monoteísta e de uma necessidade de soberania de discurso gerado a partir do momento em que o ser humano impõe significado ao mundo e que a sua individualidade encontra reverberação em um sentimento de grupo, o que faz com que cada um tente impor sua percepção sobre o certo e o errado sobre o outro, mesmo que para isso os instrumentais sejam muitas vezes reprováveis frente às mesmas percepções religiosas que estes defendem.

A religião é sim uma bússola moral da interpretação do mundo que cerca cada um. A diretriz interpretativa da vida a partir de preceitos religiosos é um fenômeno que faz com que no momento em que alguém movido por uma visão determinada por uma ou outra religião se encontre frente aos comuns dilemas diários da vida, a religiosidade se apresenta como uma bússola moral que aponta para o lado de como se deve interpretar a realidade, e assim agir.

Embora paradoxal, pois as três maiores religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) pregam a tolerância, o amor ao próximo e a solidariedade como diretrizes interpretativas da vida, a natureza humana falha que traz consigo patologias como o individualismo e o egoísmo e que geram a necessidade em muitos de ter a sua (e de seu grupo) visão de mundo quanto à quem é Deus e como este quer que se conduza a vida, transcende as diretrizes interpretativas dos dilemas da vida na busca pela soberania da sua própria visão de mundo, criando uma tensão, a possibilidade da barbárie e a justificação da superação da solidariedade, tolerância e amor ao próximo em nome de um pervertido e individualista conceito de justiça divina.

Enquanto se tem somente um Deus, são diversas as religiões e todas querem exclusividade e a soberania de seu Deus, o que, indevidamente, pode justificar o terror e a insanidade em nome de Dele. O terrorismo é internacional pois os seus fundamentos não respeitam pátrias, mas sim um Deus que é universal no conceito mas individualista e egoísta quanto àqueles que defendem a sua universalidade e soberania quanto à quem é Deus e o que ele prega. Ou seja, a bússola moral da solidariedade, amor ao próximo e tolerância acaba apontando para um interpretação da realidade que justifica ações na busca por impor a soberania de um Deus único e que tem a sua a visão de mundo de um grupo e não da unidade humana.