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Um subterfúgio um tanto quanto maquiavélico por parte da Beija-Flor este de buscar patrocínio junto a um governo notadamente corrupto, onde a devastação é a regra e não conduta exclusiva de criminosos ambientais e que virou o quintal de uma família liderada por um ditador sanguinário que executou o próprio tio para tomar o poder.

A Beija-Flor ultrapassou todos os limites, e infelizmente não tem conseguido justificar a origem dos fundos que possibilitaram realizar um belo desfile de carnaval com enredo inspirado em Guiné Equatorial. É sim importante identificar a origem do dinheiro, mas também é importante identificar o limite de moralidade ultrapassado pela Beija-Flor nesse episódio.

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Supondo que o patrocínio seja de empresas brasileiras, em sua grande maioria construtoras que atuam no país africano, temos algo muito semelhante ao nepotismo cruzado. O nepotismo cruzado ocorre quando um agente público impedido por lei de contratar parentes contrata parentes de outro agente público na espera de que o “favor” seja saldado com a contratação de um de seus parentes, criando uma falsa aparência de legalidade, que desaba com uma simples a atenta análise baseada na mais simples moralidade.

O fato de o patrocínio vir de empresas privadas e não diretamente do governo de Guiné Equatorial de forma alguma afasta a obrigação da Beija-Flor entender o país sobre o qual faz um desfile onde retrata em belas cores uma realidade de faz de conta para agradar ao patrocinador, omitindo a real pintura de pobreza, corrupção e opressão.

Quando uma empresa brasileira, atuando em um país notadamente corrupto “altruisticamente” patrocina um desfile milionário que pinta uma imagem idílica de um país com um regime ditatorial que está baseado na pobreza do povo e na riqueza de seu governante, mas que é um promissor canteiro de obras para empresas que buscam oportunidade de lucrar, independentemente dos meios utilizados (vide lava-jato), evidencia-se que há a esperança de que o agrado, tal qual no nepotismo cruzado, seja saldado de alguma forma.

Nesse sentido, vale a pena reproduzir a afirmação da Procuradoria Geral do Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre processo ao qual responde o segundo vice-presidente do país africano, vez que esta é a mais clara imagem do que ocorre em Guiné Equatorial. Segundo Leslie Caldwell, Procuradora Geral do Departamento de Justiça estadunidense, “por meio de incansável locupletamento e extorsão, o vice-presidente Nguema Obiang de forma vergonhosa aproveitou-se da posição para suportar o seu estilo de vida esbanjador enquanto muitos de seus concidadãos viviam na mais extrema pobreza.  Após acumular milhões em propinas e “favores” de empresas, Nguema Obiang embarcou em uma gastança abastecida pela corrupção que teve como destino e espalhou-se pelo Estados Unidos.”

Supondo, por sua vez, que o patrocínio tenha sido direto, ou seja, sem a intermediação de “patrocínio” de construtoras amigas, mas sim com dinheiro do próprio governo, a Beija-Flor infelizmente comprova que o dinheiro compra até mesmo um desfile que esquece ou marginaliza informações sobre um regime que na realidade está baseado na manutenção da pobreza da população oprimida por um ditador e seus familiares que se aproveitam do Estado como se propriedade privada fosse e que atua com mãos pesadas quanto àqueles que se apõem à sua administração.

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É triste constatar que a Beija-Flor, independentemente da origem do dinheiro do patrocínio, fechou os olhos para a miséria humana em nome de um belo desfile de carnaval. Enquanto alguns festejam em Nilópolis, milhares morrem e sofrem em Guiné Equatorial.