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Brasil, um anão diplomático?

Um conflito com bases tão complexas como o argumento da existência de Deus.

Um conflito com bases tão complexas como o argumento da existência de Deus.

 

Quero deixar claro que o presente post não tem como intento defender os atos de Israel ou do Hamas, pois não acho que estou em condições, intelectuais inclusive, de tomar partido nesse conflito que faz com que a estupidez humana fique a cada dia mais evidente.

No mundo da diplomacia o ato de chamar um embaixador para consultas frente ao Itamaraty é uma direta declaração de reprovação e não uma educada e polida oferta de contraditório e colheita da dados, vez que com a tecnologia da informação não mais seria necessária tal chamado.

O governo brasileiro, ao chamar o embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas e a posterior nota onde declara entender o conflito como sendo inaceitável, apresenta suas percepções políticas, embora de maneira velada e diplomática. Tal expediente diplomático trouxe um grande descontentamento por parte da diplomacia israelense, vez que a pronta resposta demonstra que o recado foi muito bem entendido e que causou mais desconforto do que um anão diplomático poderia gerar.

O simples resposta de Israel, a qual considerou ser a manifestação brasileira lamentável e uma demonstração de que o Brasil é um anão diplomático no cenário internacional, denota o contrário do intentado, ou seja, que o ato de chamar o embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas e a posterior nota de manifestação gerou sim um desconforto político para Israel, demonstrando que o Brasil alcançou o seu intento com a manobra diplomática.

Quanto ao fato do Brasil ser um anão diplomático, tal afirmação não poderia ser mais absurda, contraditória e desapegada da realidade. Na prática da diplomacia, a qual aconselha a não endurecer tanto o tom quando ainda há alternativas polidas de demonstrar insatisfação ou contrariedade, a manifestação tempestiva porém desproporcional de Israel somente comprova que a irrelevância brasileira não é tão grande assim, e que a resposta desproporcional de Israel tenha sido na mesma medida da desproporcionalidade tão criticada pelo Itamaraty quanto à condução do conflito em Gaza.

Diplomaticamente o Brasil, embora muitas vezes de forma equivocada e ideologicamente orientada, tem se posicionado muito bem no cenário internacional, vide a participação brasileira na articulação de uma dos mais relevantes grupos de concertação da atualidade os BRICs, a participação no G20, no G7 + 1, a liderança na OMC, na Unasul e no MERCOSUL, a sua posição geopolítica e extensão territorial, biodiversidade, condições historicamente construídas e naturalmente constatadas e que não podem ser marginalizadas devido a uma posição política diplomaticamente declarada.

Entretanto, em algumas questões a declaração israelense encontra fundamento. O Brasil não pode ver sua diplomacia contaminada por ideologias, as quais levam a condenar atos de forma unilateral sem considerar que em um conflito há sempre dois ou mais lados a serem avaliados e consultados, e que a unilateralidade ideológica mina a credibilidade de qualquer posicionamento diplomático devido à evidente parcialidade.

Friso novamente que não estou defendendo os atos do Estado de Israel ou do Hamas, mas sim a necessidade de um maior distanciamento da diplomacia brasileira de posicionamentos radicais, vez que estes sim podem tornar o posicionamento brasileiro questionável por estar contaminado pela necessidade persuasão política de um determinado grupo político e seus aliados e não direcionado pelo melhor discernimento dos fatos e um retrato fiel da realidade.

O Brasil não pode ser considerado um anão diplomático, entretanto precisa atentar mais para a linha diplomática adotada e a orientação de política externa colocada em prática, vez que estas determinam a credibilidade de suas declarações, as quais podem relegar o Brasil a um papel de radicalismo unilateral que nunca foi a sua vocação.

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