Mujica trouxe a grande evidência de como a política partidária que tomou conta do nosso executivo politizou um bloco que deveria estar absolutamente imune a este tipo de contaminação.
Quando países latino-amercianos decidiram unir forças para a formação de um bloco com caráter eminentemente econômico, estes buscavam ganhar competitividade internacional, possibilitando negociações em bloco e a o consequente fortalecimento de suas economias. O instrumental originário nunca foi de caráter político, ou seja, não se buscava com a criação do Mercosul harmonizar posições político ideológicas e a utilização do bloco com mecanismo de barganha para forçar mudanças na política interna dos Estados-membros.
O objetivo almejado, desde a sua fundação no início da década de 90, deveria ser sempre a facilitação do comércio entre os membros do bloco com o aumento do intercâmbio comercial, acesso a mercados de forma mais competitiva com a sua consequente ampliação, o que, em teoria, geraria mais atividade econômica, pleno emprego e desenvolvimento, sendo que o instrumental central seria a diminuição de taxas comerciais e tarifas de importação, proporcionando a livre circulação de mercadorias entre os Estados-membros.
Além da questão de diminuição tarifária, negociação em bloco e incremento comercial entre o seus membros, o Mercosul não se deteve apenas aos fatores econômicos, mas a fatores sociais e culturais, entretanto, jamais buscou harmonizar percepções ideológicas, ou interferir em assuntos internos, seja de forma pública ou a partir de reuniões secretas, na calada da noite, como se o Mercosul fosse um instrumental político-partidário, e não um instrumental para utilizar o comércio internacional como mecanismo de desenvolvimento. O papel de tentar impor uma ideologia política na América Latina já tem sido interpretado por foros de concertação como o Foro de São Paulo.
O ex-presidente uruguaio José Mujica, ao revelar reunião secreta convocada por Marco Aurélio Garcia em Brasília entre emissário do governo uruguaio a a presidente Dilma Roussef, afirma que a presidente do Brasil não deixou que o representante uruguaio anotasse o que era conversado, declarando: “Essa reunião nunca existiu”.
O tema central da conversa foi um suposto golpe que estava sendo orquestrado contra Fernando Lugo, presidente paraguaio e militante de esquerda de grande relevância na América Latina. Considerando a possibilidade de golpe no Paraguai, segundo Mujica, seu emissário afirmou que a presidente brasileira declarou que o Brasil precisava que o Paraguai ficasse de fora do Mercosul para, assim, apressar as eleições no país.
Esta reunião secreta, da qual não há provas da sua ocorrência, mostra algo que se realmente houve é demasiadamente grave, a utilização de um bloco de caráter econômico como mecanismo de pressão para impor percepções unilaterais de política interna de Estado-membro a outro Estado democrático e com instituições consolidadas, ou seja, uma tentativa de através de manobras clandestinas imiscuir-se nos assuntos internos de países vizinhos da América Latina.
Independentemente da orientação ideológica, se de um governo de direita, esquerda ou centro, ou até mesmo sem orientação ideológica, a utilização do Mercosul como instrumento de pressão política prostitui seus objetivos, pervertendo sua história e a real função para a qual foi criado. A politização do Mercosul é a sua destruição, é a sua transformação em um foro ideológico com força econômica.
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