Tomates e futebol.
Admiro a Argentina! Acredito que um país que tenha na melancolia do tango, na raça futebolística e na força das suas “madres” pontos centrais de sua formação social e política não deveria satisfazer-se com a simples oferta de alimento e diversão ao invés de mudanças estruturais e perenes, muito embora historicamente possa perceber-se uma certa quedinha por governantes mais carismáticos e pitorescos do que administradores públicos competentes e comprometidos com medidas não imediatistas.
É nessa Argentina que em 2014 a presidente Cristina Kirchner terá quatro desafios: uma crise energética que colocou a Argentina em situação de calamidade; uma crise política onde membros de um mesmo governo se desentendem publicamente e evidenciam uma crise de autoridade na Casa Rosada; o fantasma da inflação e uma potencial escalada nos preços dos alimentos e; a esquizofrenia cambial de um dólar supostamente controlado.
As medidas anunciadas nos primeiros dias de 2014 indicam uma tentativa desesperada para amainar o descontentamento em um país assolado pelo desemprego e desanimado com o porvir. Buscando apoio popular o governo argentino resolveu optar pelo caminho mais fácil e rápido.
Na área do entretenimento a Casa Rosada anunciou a aquisição dos direitos exclusivos de transmissão da Copa do Mundo como uma extensão do programa “Futebol para Todos”, o qual disponibiliza gratuitamente todos os jogos do campeonato argentino, evitando, assim, a comercialização por canais fechados, dando acesso à diversão número um de todos os argentinos na esperança de que o futebol traga saciedade, se não de alimento, de diversão.
Além de diversão garantida o povo argentino comemorará o aumento no valor da Alocação Universal por Filho, uma espécie de bolsa família argentina que aumentará o poder de compra da parcela mais necessitada da população, mas que pode não ser a âncora necessária para a crise inflacionária.
Ainda, com a ameaça de desabastecimento de um dos vilões de 2013 no Brasil, o governo de Kirchner já determinou, contrariando a política de proteção à indústria doméstica adotada em 2013, a desoneração da importação de tomates na tentativa de conter a inflação e a falta do produto na mesa dos argentinos.
Assim, de maneira contraditória, Cristina Kirchner espera que tomates e futebol mantenham as famílias alimentadas enquanto torcem por Messi e cia., ao mesmo tempo em que busca arrumar a casa na tentativa de alcançar uma solução eficaz e duradoura para que um dia a melancolia argentina possa residir somente em seus belíssimos tangos!
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