Pela primeira vez desde que a lista tríplice foi criada, em 2001, um procurador regional da República está entre os três nomes mais votados pelos colegas do Ministério Público Federal (MPF). É Blal Yasine Dalloul, procurador da República há 23 anos que, antes disso, havia sido servidor do MPF por 11 anos.
Blal é procurador regional desde 2010, mas não está entre os 72 subprocuradores-gerais da República, topo da carreira, que atuam nos tribunais superiores, em Brasília, e têm exclusividade, por lei, para ocupar uma série de cargos na Procuradoria-Geral da República (PGR) e nas instâncias administrativas do MPF.
Há uma série de razões que explicam por que isso ocorreu agora. A carreira do MPF cresceu muito nos últimos anos, e as bases se sentem desprestigiadas. Muitos trabalham em locais isolados do Brasil, não veem possibilidade de mudança rápida no trabalho, e se sentem preteridos nas funções administrativas no MPF.
Com a gestão de Raquel Dodge, acusada de falta de diálogo até pelos colegas de Brasília, as pressões da base cresceram – e não ajudou nada a atual PGR ter atuado para enterrar o projeto de regulamentação do teletrabalho dos procuradores.
Ao mesmo tempo, as forças-tarefa da Operação Lava Jato mostraram o arrojo de muitos procuradores da base. Por muito tempo, o nome de Deltan Dallagnol era aventado como possibilidade de figurar na lista, se concorresse.
Na liberdade das redes sociais, impulsionada pelo momento pós-Lava Jato, procuradores viraram ícones e comentadores da vida política nacional. Conservador, Ailton Benedito também despontou, mas nunca quis concorrer.
Não por acaso, no início deste ano se instalou a polêmica: parte da cúpula do MPF passou a defender publicamente que apenas subprocuradores-gerais da República poderiam ser indicados para PGR [entenda melhor aqui].
O recado desceu quadrado. Entre os 10 nomes que concorriam, os seis subprocuradores-gerais tiveram 1.231 votos; os quatro procuradores regionais, 1.315 votos. Na eleição, cada membro do MPF pode votar em até três nomes.
A mudança política também favoreceu o resultado – o recorde de inscritos na eleição mostra isso. Lideranças tradicionais no MPF, abertamente ligadas a pautas de esquerda, tiveram de recuar e desistir – por enquanto – do projeto de tentar ser PGR.
Foram para a toca nomes como Nicolao Dino, que liderou a lista de 2017, e Deborah Duprat, atual procuradora federal dos direitos do cidadão, indicada por Dodge.
Pesam, no entanto, pontos da figura de Blal. Muito próximo do ex-PGR Rodrigo Janot e de seu grupo, visto como alguém que vai defender a carreira do MPF, que se sente desprestigiada por questões de remuneração – alguns diriam "corporativista" –, Blal é ainda lembrado pelo trabalho que fez como chefe da Procuradoria do Mato Grosso do Sul.
Simpático, dava jantares em casa, falava com todos, desde funcionários terceirizados até colegas, a quem sempre encontrava tempo para uma reunião e buscar no aeroporto – e conseguia verbas em Brasília. Atualmente, Blal exerce um ofício criminal no Rio de Janeiro.
Já estiveram entre os indicados na lista tríplice, todos subprocuradores-gerais:
- Cláudio Fonteles (duas vezes, e PGR entre 2003 e 2005)
- Antonio Fernando Barros e Silva de Souza (quatro vezes, e PGR entre 2005 e 2009)
- Ela Wiecko de Castilho (seis vezes, nunca foi PGR)
- Wagner Gonçalves (três vezes, nunca foi PGR)
- Roberto Gurgel (três vezes, e PGR entre 2009 e 2013)
- Rodrigo Janot (três vezes, e PGR entre 2013 e 2017)
- Deborah Duprat (uma vez, nunca foi PGR)
- Raquel Dodge (duas vezes, e atual PGR no mandato 2017-2019)
- Mário Bonsaglia (três vezes, contando a atual lista tríplice).
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