Sexta-Feira, 8 de maio. A hashtag #DireitaContraBolsopetismo escala o ranking dos trending topics do twitter até alcançar o topo. Altaneira, lá permaneceu até que temas comezinhos retomassem seu lugar. O governo, assustado, retrucou; em questão de duas horas, robôs ergueram a Tag #DireitaComBolsonaro, com milhões de citações automáticas, restabelecendo a ordem para a patuleia em pânico. Bolsonaro tem que ganhar, mesmo que roubado. É a lógica das urnas fraudadas convertida em gente fraudada. Um luxo só.
O internauta que investigasse a disputa consideraria aquilo tudo curioso; os principais influenciadores do campo da direita — de youtubers a deputados federais — agrediam o presidente da república com a mesma verve que encararam Dilma e o PT. Uma massa furiosa de anônimos participava da empreitada, despendendo energia formidável; a sensação de enfrentar um inimigo maior, mais poderoso — e cheio de artimanhas desonestas — lhes servia de impulso. É um legítimo fenômeno político em eclosão.
Trago, com orgulho, essa discussão para a Gazeta do Povo, pois sei que esta casa, em seu corpo de colunistas, já antecipava este debate. Governistas e opositores expõe aqui suas visões. É o momento em que a aposta do jornal em uma linha editorial firme e clara — sempre democrática — alcança seu ápice. Aqui debate-se o que interessa ao Brasil.
Mesmo em crise, o campo da direita produz correntes antagônicas, teses distintas, leituras divergentes; existe vitalidade em meio ao caos. E é importante que haja — essencial para sua renovação e aprimoramento. Basta comparar com nossos antagonistas. A esquerda há muito capitulou para o PT; corrente alternativa alguma consegue emergir no debate sem as devidas ressalvas exaltando o partido. Na direita, porradaria virou mato.
A oposição política dentro do próprio campo é uma estranha novidade em tempos de polarização, posto que contraria a lógica intrínseca das redes sociais. Opor-se à bolha que pertence é “anti-econômico” — retira likes, seguidores e faturamento. Mas inova, gera alternativa e embaralha as fórmulas prontas. O Bolsonarismo foi desenhado para se contrapor à esquerda e perseguir os traidores da direita. É a mesma fórmula hegemônica do PT. Direita independente — de sucesso — não estava no script. Por isso o desespero.
Muitos tentam compreender o fenômeno político iniciado em 2013 e ainda não resolvido. Esquerda participou de sua eclosão, mas foi convertida paulatinamente em inimigo; direita apropriou-se do processo, deu coesão para as classes médias e fez-se força política capaz de derrubar Dilma, prender Lula e eleger Bolsonaro. As contradições do presidente eleito retiraram do setor sua capacidade de ação em 2019 — permitindo a Bolsonaro recuos obscenos na luta contra corrupção, agenda reformista e enfrentamento a privilégios. Mas não a matou. E aí reside o problema de Jair.
Enquanto a esquerda se revolve em suas disputas intestinas com o petismo — dependendo de Felipe Neto para conduzir seu público —, o campo da direita retoma as lutas de 2013 tendo em Bolsonaro seu antagonista. O presidente ajuda na tarefa, comportando-se como sociopata ausente de humanidade. É estranho pai coruja, protegendo os filhos corruptos ao ponto de demitir seu ministro mais popular. Enquanto catalisador de causas, morreu. É um governante estéril.
A onda que alçou Bolsonaro ao poder irá derrubá-lo. Mas a queda de seu usurpador não será suficiente para resolver os problemas essenciais de um campo político tomado por intenso sentimentalismo e premissas anti-políticas. Para muitos, Bolsonaro é traidor pois não foi autoritário o suficiente — por capitular ao “inimigo”.
Eis o drama: parte desses agentes — oportunistas e radicais — vai se ancorar num projeto alternativo, Moro ao leme, depositando a mesma esperança revolucionária num líder carismático que embale seus sonhos. Caso convertam-se em grupo majoritário, darão com os burros n’água tal qual Bolsonaro e os seus. Não por conta de Moro — que pouco conhecemos enquanto político. Mas pela própria lógica carreirista de quem pode se acoplar à sua candidatura.
Se queremos reconstruir a direita democrática e torná-la politicamente viável, precisamos, antes de tudo, torná-la democrática. Precisamos defender o liberalismo político com a mesma ênfase que defendemos liberalismo econômico. Sem espaço para populismos ou cultos à personalidade. Precisamos dialogar mais com outros campos políticos, ao invés de “debater” — brigar — como fizemos nos últimos anos. Precisamos propor políticas públicas, não promover políticos públicos. Precisamos amar a política, a mais nobre das ocupações humanas, e não destruí-la, como muitos julgavam ser necessário.
As sementes para seu sucesso e fracasso já estão devidamente plantadas dentro da direita que se opõe a Bolsonaro. Aguardemos os próximos capítulos para ver qual delas brotará no terreno fértil que se desenha no horizonte.
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