A crise política que derrete o governo Bolsonaro vem tomando contornos dramáticos neste final de agosto. Mais que a intentona golpista do presidente e seus influenciadores alucinados, há uma movimentação subterrânea, ainda pouco captada pelas redes sociais, que corrói o pouco que resta de popularidade do atual presidente. Mais: que pressiona de forma aguda seus aliados do centrão, inviabilizando o já caro apoio que outorgam ao mandatário.
O vírus da pobreza, da carestia, velho monstro que nos assolou no passado, está de volta, e altera profundamente o modo de vida das famílias brasileiras. A subida estratosférica dos preços da comida — carne bovina se tornou luxo até para as classes médias — é acompanhada da disparada dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. A energia elétrica, insumo essencial em toda atividade produtiva, subiu e subirá mais; os aluguéis disparam, e serviços da nova economia que se popularizaram nos últimos anos, como os aplicativos de transporte, tornaram-se inviáveis. É fato: o governo Bolsonaro ficou caro demais até para os bolsonaristas.
Quem me acompanha por aqui sabe que faço oposição sistemática a essa quadrilha que se instalou no Planalto. Não pela mera disputa política — Bolsonaro está, em tese, no mesmo campo político que eu. O faço pois era óbvio que suas pretensões autoritárias, mescladas com o mais puro creme do patrimonialismo , não redundaria em nada diferente do atual fracasso.
Sempre dei como certa a crise política que se instalou. Ainda assim, não esperava que o grupo de liberais conduzido por Paulo Guedes fosse se igualar nesta incompetência atroz, destruindo com a fúria de um Guido Mantega os fundamentos da economia brasileira. Perceba: os agentes de mercado já esperavam — precificavam — uma tensão entre os modos políticos heterodoxos do presidente e os projetos reformistas da equipe econômica. Erramos todos. A equipe de Paulo Guedes é tão imbecil e golpista quanto a família presidencial.
Vivemos a disparada da inflação e dos juros como país algum no mundo. Despejamos dinheiro no auxílio emergencial, mas sabotamos o isolamento e a vacinação, entregando uma recuperação econômica mais lenta e tardia. Por culpa de Bolsonaro — fora ele a patrocinar tais excentricidades — vivemos o país dos 600 mil mortos e do pior legado econômico. “Ah, não foram vocês que disseram pra deixar a economia pra depois”, responde o gado treinado. Sim, fomos nós, os mesmos que queriam a pronta vacinação e o combate feroz ao vírus. O mundo seguiu o receituário e vai bem, obrigado. É o Brasil de Bolsonaro e Guedes que afunda.
Mesmo a comparação com os estados é nociva. João Doria, tratado como vilão na tese mentirosa, entrega resultados econômicos bastante superiores à média nacional. É sabido que o demônio da calça apertada adotou caminho oposto ao do presidente; por qual razão, então, São Paulo se recupera em intensidade tão maior? Eis o ponto que a mídia adesista, encoleirada na cloroquina da Secom, não é capaz de lhe entregar. Finge que a realidade não é real; vivem, como gostam de falar, o mundo das “narrativas”.
Se a gênese da crise está no negacionismo de Bolsonaro, seu crescimento é de responsabilidade do ministro da economia. A compra do parlamento através de emendas serve apenas a teses lúdicas como o voto impresso. Reforma, que é bom, não tem. Quando tem, porém, é também desastre: eis o caso da anti-privatização da Eletrobrás e da Reforma tributária que aumenta impostos. O herói dos mercados, a estátua viva Paulo Guedes, não tem plano algum; fez-se pequeno, menino de recados do projeto (projeto?) nacional-populista de seu amo.
Para ele, o medo do fim chegou. Enquanto viabiliza a destruição do teto de gastos para bancar o Bolso-Família de 400 reais, Guedes desdenha da crise que apunhala os brasileiros. Pobre nunca foi; nem sequer o triste clube da classe média ele frequentou. Rico de berço, o fura-teto de Chicago tira sarro do aumento dos preços, e acha aceitável a (sobre)taxação da energia elétrica no momento em que a conta de luz atinge seu valor mais alto. Transloucado, crê que o desdém como ferramenta narrativa — emulando Bolsonaro — é o suficiente para fugir da crise. Não é, nunca será. O brasileiro, em grande medida, liga mais para o churrasco de domingo do que para a morte do vizinho. A conta chegou.
É sintomático que a Rede Record, outrora vassala do governo, tenha iniciado uma série de reportagens destruidoras contra o atual ministro. Dona do Republicanos, base do governo, fareja sangue na derrocada de Paulo Guedes. Como diz Andreazza, tem método aí. Estariam os pastores da Universal preparando o velório do ministro?
Brasília inteira sabe: há no curto horizonte uma reforma ministerial. O centrão, como de costume, pretende ocupar novos espaços, desenhar novos orçamentos. A ironia fatal é que mesmo para o papel de irresponsável Paulo Guedes é incompetente. É preciso alguém mais capacitado para destruir, junto ao presidente, o que resta da estabilidade monetária legada por Meirelles. Bolsonaro já sabe disso. A fritação através de uma TV aliada tem todas as digitais do presidente da República…
O caos se instalou, Lula finge não ser culpado e o Congresso se omite
Manobra de Mendonça e voto de Barroso freiam Alexandre de Moraes e Flavio Dino; acompanhe o Sem Rodeios
Lula encerra segundo ano de governo com queda de 16% na avaliação positiva do trabalho
Sem concorrência e com 0,08% de desconto no pedágio, EPR leva lote 6 das rodovias do Paraná
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS